Vive a sociedade contemporânea uma terrível crise de valores espirituais e morais que assinala o século, que se encontra fadado à grande transição de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração, dando lugar aos graves desequilíbrios que a quase todos atormentam.
As especulações em torno da felicidade abandonam os aspectos da dignificação humana e se transferem para as propostas de triunfo a qualquer preço, mesmo que se caracterizem pela sordidez, pela desonestidade, pela traição...
Atormentadas e desorientadas sob os camartelos das aflições, as multidões em desvario buscam o gozo irresponsável em conduta hedonista, entregando-se aos jogos enganosos dos desejos infrenes, logo despertando em letargo ou desencanto, em face da insaciabilidade interior que não conseguem se libertar.
O campeonato da insensatez ergue altares aos ídolos da fantasia e do encantamento, conspirando contra as edificações gradiosas da felicidade real, ora relegada a plano secundário.
O que interessa no momento é a fruição dos prazeres embriagadores anunciados pela mídia alucinada, que consome os seus próprios deuses na fogueira argentária dos interesses mesquinhos e extravagantes.
O delírio toma conta das massas nas ruidosas festas da sensualidade inesgotável, como se o ser humano houvesse sido criado apenas para a conturbada conduta sexual, sem outro objetivo que não o excesso até a exaustão.
A indiferença pelo próximo faculta a eclosão dos crimes de todo o porte, estimulados pela violência interior que explode em mil faces, atemorizando os cidadãos honrados e trabalhadores.
Uma nuvem tóxica terrível condensa-se sobre a Terra e praticamente a envolve, diminuindo a claridade do sol da razão e da ética, embriagando os sentidos e as emoções dos indivíduos, que se deixam anestesiar em relação ao amor e xercitar quando se trata dos prazeres perturbadores.
Certamente que, nesses difíceis dias de aquecimento do planeta, com ameaças trágicas para os seus habitantes, atingem o apogeu das suas gloriosas conquistas a ciência e a tecnologia de ponta, insuficientes, no entanto, para alcançar os arcanos íntimos dos seres humanos, que não têm sabido valorizá-las devidamente.
Crê-se que as suas contribuições devem destinar-se exclusivamente ao conforto material, às comunicações rápidas, ao prolongamento da existência física, e porque impotentes pra a transformação dos homens e mulheres, são aplicadas no imediatismo das falsas necessidades, a que os mesmos se entregam inermes....
Há, sem dúvida, uma grande sementeira da luz originada na inteligência de uma pobre colheita do sentimento sublime do amor.
Multiplicam-se as glórias dos engenhos, assim como os elevados índices das misérias de todo o porte.
A criatura humana caminha a sós, deixando-se arrastar pela correnteza dos volumosos apelos da maioria, asfixiando-se nos alucinógenos de todo o tipo que encontra pela frente.
As convicções religiosas empalidecem ante a ardência dos interesses apaixonados, fomentando a indiferença pelo espírito e a predominância pela matéria.
Negociam o Reino dos Céus pelas conquistas terrestres com cinismo e arrogância.
Por outro lado, permanecem as intolerâncias e os respectivos crimes em nome de doutrinas fundamentalistas e cruéis, dizimando vidas que cultivam as mesmas crenças, porque oriundas das mesmas fontes de inspiração, interpretadas, porém, de maneira diversa.
O ódio disfarça-se de direito de defesa, dando lugar à hediondêz de conduta sob o aplauso de leis injustas fabricadas para as nefastas ocasiões.
Governos perversos fomentam a fragmentação de inúmeros países em nome de hegemonias raciais, de partidos políticos, de interesses econômicos.
...E as guerras, sem qualquer disfarce, multiplicam-se no Orbe.
Filosofias estravagantes são divulgadas com cinismo , atraindo as mentes jovens e inexperientes, em ferrenho combate contra os valores da família, da monogamia, do respeito individual e social, da fraternidade, do bem e do equilíbrio.....
Simultaneamente, porém, o sofrimento com a sua fauce hiante devora florações juvenis e adultas, como resultado da insânia que toma corpo na sociedade.
Antes advertia-se que a única solução para tais problemas estaria no sofrimento, no qual a dor se transformaria no caminho libertador.
As almas imaturas, porém, ante o sofrimento, estorcegam e rebelam-se, piorando os quadros da própria desdita, terminando por atirar-se nos sorvedouros das mais terríveis alucinações que culminam em expiações muito severas.
A psicoterapia da atualidade, porém, é diversa. Embora não elimine do seu arsenal de socorro o sofrimento que decorre do desconcerto moral a que os pacientes se entregam, em face dos abusos cometidos, apresenta o amor como solução.
Somente se pode ser livre e feliz quando se ama.
O amor é diretriz para as metas sublimes da auto-realização, da autoconsciência.
Sem ele a existência terrena perde o seu significado libertador e iluminativo, porquanto retira o sentido que a vida possui na sua legitimidade.
O primitivismo que predomina em a natureza humana, ainda decorrente do seu processo de evolução ancestral, exige o imediato, enquanto o sentimento de amor, esta conquista paulatina que vem sendo alcançada, sabe aguardar o momento adequado, a ocasião em que se solucionam os problemas e surge a ventura.
Somente o egoísmo sistemático e insensível objeta contra a solidadriedade e a compaixão, contra a caridade e o amor que são manifestações do psiquismo divino ínsito em todos os seres.
Prevalecendo, por enquanto, nos agitados quadros sociais do planeta, devasta a política, a religião, as artes, os ideais de engrandecimento espiritual, a tecnologia - utiliza para o imediatismo -, a ciência - a soldo do poder mentiroso dos governantes embriagados de soberba -, os sentimentos amedrontados ...
Nada obstante, a força do amor terminará por vencer as barreiras fortes da impiedade e do materialismo de que se reveste esse sentimento vil, e intalará, a pouco e pouco, os alicerces do respeito humano, que se expande em favor da Natureza do planeta, de toda expressão de vida que nele se manifesta...
Por isso no bárbaro desespero que assola, surgem idealistas que trabalham infatigavelmente em favor de todo e qualquer tipo de minoria oprimida, de animais em extinção, da Terra em agonia, da justiça e do bem, que vigerão em dia não muito distante, transformando o mundo do agitado em paraíso de educação e de progresso moral.
Isso porque o amor como solução é o único recurso de que o ser humano pode dispor.
Certamente não se tratará de uma realização mágica, de fora para dentro, através de decretos governamentais ou de imposições sociais, mas se apresentará como resultado da transformação pessoal de cada um para melhor que, trabalhando as imperfeições e as más inclinações, se converterá em exemplo a ser seguido.
Ante a impossibilidade de mudar o mundo, cada homem e mulher mudadrá a sua conduta interna e conquistará o seu lugar ao sol da harmonia, impondo a mudança geral.
Joanna de Ângelis.
O Amor Como Solução
Psicografia: Divaldo Pereira Franco
11 de Julho de 2006 na cidade de Paramirim
*Hedonista= filosofia grega a qual julga ser o prazer o bem supremo da vida
* Fauce = boca, garganta, goela
* Hiante = muito grande, enorme
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