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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A Sabedoria da Vida situou o Natal de Jesus frente do Ano Novo, na memória da Humanidade, como que renovando as oportunidades do amor fraterno, diante dos nossos compromissos com o Tempo.

O Natal de Jesus

A Sabedoria da Vida situou o Natal de Jesus frente do Ano Novo, na memória da Humanidade, como que renovando as oportunidades do amor fraterno, diante dos nossos compromissos com o Tempo.
Projetam-se anualmente, sobre a Terra os mesmos raios excelsos da Estrela de Belém, clareando a estrada dos corações na esteira dos dias incessantes, convocando-nos a alma, em silêncio, à ascensão de todos os recursos para o bem supremo.
A recordação do Mestre desperta novas vibrações no sentimento da Cristandade.
Não mais o estábulo simples, nosso próprio espírito, em cujo íntimo o Senhor deseja fazer mais luz...
Santas alegrias nos procuram a alma, em todos os campos do idealismo evangélico, o tom festivo das nossas manifestações de confiança renovada, entretanto, não podemos olvidar o trabalho renovador a que o Natal nos convida cada ano, não obstante o pessimismo cristalizado de muitos companheiros, que desistiram temporariamente da comunhão fraternal.
E o ensejo de novas relações, acordando raciocínios enregelados com as notas harmoniosas do amor que o Mestre nos legou.
E a oportunidade de curar as nossas próprias fraquezas retificando atitudes menos felizes, ou de esquecer as faltas alheias para conosco, restabelecendo os elos da harmonia quebrada entre nós e os demais, em obediência à lição da desculpa espontânea, quantas vezes se fizerem necessárias.
É o passo definitivo para a descoberta de novas sementeiras de serviço edificante, através da visita aos irmãos mais sofredores do que nós mesmos e da aproximação com aqueles que se mostram inclinados à cooperação no progresso, a fim de praticarmos, mais intensivamente, o princípio do “amemo-nos uns aos outros”.
Conforme a nossa atitude espiritual ante o Natal, assim aparece o Ano Novo à nossa vida.
O aniversário de Jesus precede o natalício do Tempo.
Com o Mestre, recebemos o Dia do Amor e da Concórdia.
Com o tempo, encontramos o Dia da Fraternidade Universal.
O primeiro renova a alegria.
O segundo reforma a responsabilidade.
Comecemos oferecendo a Ele cinco minutos de pensamento e atividade e,  a breve espaço, nosso espírito se achará convertido em altar vivo de sua infinita boa vontade para com as criaturas, nas bases da Sabedoria e do Amor.
Não nos esqueçamos.
Se Jesus não nascer e crescer na manjedoura de nossa alma, em vão os Anos Novos se abrirão iluminados para nós.

Autor: Emmanuel

Psicografia de Francisco Cândido Xavier. Livro: Fonte de Paz

domingo, 24 de novembro de 2013

parte do livro de Marcel Souto Maior – Kardec a biografia.


 

Os Quatro Evangelhos 

Em 1866, finalmente viriam a público os quatro longos volumes da obra assinada pelo advogado de Bordeaux Jean Baptiste Roustaing: os quatro evangelhos.
No prefácio, uma declaração de gratidão a Kardec por seu livro de estreia:
Li O Livro dos espíritos. Nas primeiras páginas desse volume encontrei uma moral pura, uma doutrina racional, em harmonia com o espírito e progresso dos tempos modernos, consoladora para a razão humana.
Como escreveu em cinco anos antes a Kardec, Roustaing descobrira um mundo novo nas páginas de o livro dos espíritos: a pluralidade dos mundos, a lei do renascimento – tudo passara a fazer sentido para ele.  
Ou melhor: quase tudo. Porque, depois de reler a obra-prima do mestre e mergulhar  na leitura do livros dos médiuns, uma figura ainda o intrigava: Jesus Cristo. A “moral sublime” do filho de Deus estava traduzida com clareza e transparência nos textos de Kardec, mas quais seriam sua origem e natureza espirituais?
(...) senti a impotência da razão humana para penetrar as trevas da letra e, desde então, a necessidade de uma revelação nova, de uma revelação da revelação.
Para surpresa de Kardec e de muitos de seus aliados, Roustaing transformou este trecho do prefácio em sub título para seu livro, Os quatro evangelhos – a revelação da revelação, e passou a proclamar novas verdades com o aval de quatro colaboradores tão influentes quanto os coautores dos trabalhos de Kardec: os evangelistas Marcos, João, Mateus e Lucas.
O quarteto teria ditado a ele, através da médium belga Émilie Collignon, informações preciosas e ainda inéditas sobre o filho de Deus. Em poucas palavras: Jesus teria vindo à Terra em um “corpo fluídico” e não “em carne”, e a gravidez de Maria teria acontecido apenas “em aparência”. Outra notícia atribuída aos contemporâneos de Jesus: a reencarnação – necessidade para a evolução do homem, segundo Kardec – serviria também de punição de pecados, castigo divino, e não apenas ao ciclo evolutivo e virtuoso definido e defendido pelo mestre.
Entre as revelações da revelação, uma má notícia para os espíritas mais combativos, anunciada no terceiro tomo da obra de Roustaing, estudioso voraz da bíblia: o futuro espiritual da humanidade estaria na “igreja do Cristo” e nas mãos do papa, “cheio de humildade, com seu cajado de viajante”.
Para os espíritas atentos a detalhes o mais constrangedor era a presença de João Evangelista nestas revelações do além. Identificado como um dos colaboradores de Kardec em O livro dos espíritos, ele não poderia, ou deveria, avalizar informações como as expostas em Os quatro evangelhos.
Na obra de Roustaing, o Deus misericordioso e do espiritismo era colocado em xeque; a dor de Cristo em sua via crucis era reduzida a uma encenação (não teria sofrido “na carne” todos os castigos); e o ciclo fundamental do “nascer, morrer, e progredir sem cessar” também saía arranhado.
Na edição de Junho de 1866 da Revista Espírita, Kardec daria seu parecer sobre os quatro volumes publicados por Roustaing. 

Com o cuidado de não mencionar o termo “revelação da revelação” nem de questionar os poderes da igreja católica, o codificador da doutrina espírita lançou dúvidas quanto a tese central de Os quatro evangelhos: a natureza “agênere”, não corporal, de Cristo.
Sem nos pronunciarmos pró ou contra essa teoria, diremos que ela é pelo menos hipotética, e que, se um dia fosse reconhecida errada, em falta de base, todo o edifício desabaria.
Duas linhas depois de declarar que não o faria, Kardec tomou uma posição contra:
Sem prejulgar essa teoria, diremos que já foram feitas objeções sérias a ela e que, em nossa opinião, os fatos (sobre a morte e ressurreição de Cristo) podem ser perfeitamente explicados sem sair das condições da humanidade corporal.
O diretor da Revista Espírita, aliás, considerava a obra muito extensa:
Ao nosso ver, limitando-se ao estritamente necessário, a obra poderia ter sido reduzida a dois, ou mesmo a um volume, e teria ganho em popularidade.

Conselho de um Best-seller.

Nos bastidores, em conversas com Amélie e os colaboradores mais leais, Kardec foi menos polido. Roustaing cometera um erro grave: o de confiar todo o seu texto a uma única  médium e, o pior, uma ilustre desconhecida, a julgar por esta frase do prefácio: “ O trabalho iria ser feito por dois entes que, oito dias atrás não se conheciam.”
As mensagens atribuídas aos evangelistas não foram checadas com outros médiuns, e nenhum outro espírito – a não ser os dos círculos de Émilie Collingnon – fora “ouvido” até a publicação das 2 mil páginas. O método da “universalidade do ensino dos espíritos”, definido por Kardec, teria sido ignorado, e o resultado era aquele.
Kardec guardaria na gaveta, até a sua morte, mensagens do além bastante diferentes das divulgadas pelo advogado de Bordeaux. Em uma delas, intitulada “Futuro do espiritismo”, o autor espiritual não deixava dúvidas quanto ao poder e à responsabilidade do espiritismo:
- Cabe-nos refletir os erros da história e depurar a religião do Cristo, transformada, nas mãos dos padres, em comércio e em vil tráfico. Instituirá o espiritismo a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente para Deus, sem dependência da obra da sotaina ou dos degraus do altar.
A mensagem terminava com um vaticínio nada condizente com Os quatro evangelhos. “A igreja atira-se, por si mesma, ao precipício.”

*(Segue em anexo a publicação da RE de 1866, que não está publicado na obra de Marcel S. Maior).

*Os Evangelhos explicados pelo Sr Roustaing

Revista Espírita, junho de 1866

Esta obra compreende a explicação e a interpretação dos Evangelhos, artigo por artigo, com a ajuda de comunicações ditadas pelos Espíritos. É um trabalho considerável e que tem, para os Espíritas, o mérito de não estar, em nenhum ponto, em contradição com a doutrina ensinada pelo Livro dos Espíritos e o dos Médiuns. As partes correspondentes às que tratamos no Evangelho Segundo o Espiritismo o são em sentido análogo. Aliás, como nos limitamos às máximas morais que, com raras exceções, são claras, estas não poderiam ser interpretadas de diversas maneiras; assim, jamais foram assunto para controvérsias religiosas. Por esta razão é que por aí começamos, a fim de ser aceito sem contestação, esperando, quanto ao resto, que a opinião geral estivesse mais familiarizada com a ideia espírita.
O autor desta nova obra julgou dever seguir um outro caminho. Em vez de proceder por gradação, quis atingir o fim de um salto. Assim, tratou certas questões que não tínhamos julgado oportuno abordar ainda e das quais, por consequência, lhe deixamos a responsabilidade, como aos Espíritos que as comentaram. Consequente com o nosso princípio, que consiste em regular a nossa marcha pelo desenvolvimento da opinião, até nova ordem não daremos as suas teorias nem aprovação nem desaprovação, deixando ao tempo o trabalho de as sancionar ou as contraditar. Convém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas e que, em todo o caso, necessitam da sanção do controle universal, e, até mais ampla confirmação, não poderiam ser consideradas como partes integrantes da doutrina espírita.
Quando tratarmos destas questões fá-lo-emos decididamente. Mas é que então teremos recolhido documentos bastante numerosos nos ensaios dados "de todos os lados" pelos Espíritos, a fim de poder falar afirmativamente e ter a certeza de estar "de acordo com a maioria". É assim que temos feito, todas as vezes que se trata de formular um princípio capital. Dissemo-lo cem vezes, para nós a opinião de um Espírito, seja qual for o nome que traga, tem apenas o valor de uma opinião individual. Nosso critério está na concordância universal, corroborada por uma rigorosa lógica, para as coisas que não podemos controlar com os próprios olhos. De que nos serviria dar prematuramente uma doutrina como uma verdade absoluta se, mais tarde, devesse ser combatida pela generalidade dos Espíritas?
Dissemos que o livro do Sr. Roustaing não se afasta dos princípios do Livro dos Espíritos e do dos Médiuns. Nossas observações são feitas sobre a aplicação desses mesmos princípios à interpretação de certos fatos. É assim, por exemplo, que dá ao Cristo, em vez de um corpo carnal, um corpo fluídico concretizado, com todas as aparências da materialidade e de fato um "agênere". Aos olhos dos homens que não tivessem então podido compreender sua natureza espiritual, deve ter passado "em aparência", expressão incessantemente repetida no curso de toda a obra, por todas as vicissitudes da humanidade. Assim seria explicado o mistério de seu nascimento: Maria teria tido todas as aparências da gravidez. Posto como premissa e pedra angular, este ponto é a base em que se apóia para a explicação de todos os fatos extraordinários ou miraculosos da vida de Jesus.
Nisso nada há de materialmente impossível para quem quer que conheça as propriedades do envoltório perispiritual. Sem nos pronunciarmos pró ou contra essa teoria, diremos que ela é, pelo menos, hipotética, e que se um dia fosse reconhecida errada, em falta de base todo o edifício desabaria. Esperamos, pois, os numerosos comentários que ela não deixará de provocar da parte dos Espíritos, e que contribuirão para elucidar a questão. Sem a prejulgar, diremos que já foram feitas objeções sérias a essa teoria e que, em nossa opinião, os fatos podem perfeitamente ser explicados sem sair das condições da humanidade corporal.
Estas observações, subordinadas à sanção do futuro, em nada diminuem a importância da obra que, ao lado de coisas duvidosas, em nosso ponto de vista, encerra outras incontestavelmente boas e verdadeiras, e será consultada com fruto pelos Espíritas sérios.


Se o fundo de um livro é o principal, a forma não é para desdenhar e contribui com algo para o sucesso. Achamos que certas partes são desenvolvidas muito extensamente, sem proveito para a clareza. A nosso ver, se, limitando-se ao estritamente necessário a obra poderia ter sido reduzida a dois, ou mesmo a um só volume e teria ganho em popularidade.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Não há morte




Depois que partiram do círculo carnal aqueles a quem amas, tens a impressão de que a vida perdeu a sua finalidade.
As horas ficaram vazias, enquanto uma angústia que te dilacera e uma surda desesperação que te mina as energias se fazem a constante dos teus momentos de demorada agonia.
Estiveram ao teu lado como bênção de Deus, clareando o teu mundo de venturas com o lume da sua presença e não pensaste, não te permitiste acreditar na possibilidade de que eles te pudessem preceder na viagem de retorno.
Cessados os primeiros instantes do impacto que a realidade te impôs, recapitulas as horas de júbilo enquanto o pranto verte incessante, sem confortarte, como se as lágrimas carregassem ácido que te requeima desde a fonte do sentimento à comporta dos olhos, não diminuindo a ardência da saudade...
Ante essa situação, o futuro se te desdobra sombrio, ameaçador, e interrogas como será possível prosseguir sem eles.
O teu coração pulsa destroçado e a tua dor moral se transforma em punhalada física, a revolver a lâmina que te macera em largo prazo.
Temes não suportar tão cruel sofrimento.
Conseguirás, porém, superá-lo.
Muito justas, sim, tuas saudades e sofrimentos.
Não, porém, a ponto de levar-te ao desequilíbrio, à morte da esperança, à revolta...
Os seres a quem amas e que morreram não se consumiram na voragem do aniquilamento. Eles sobreviveram.
A vida seria um engodo se, se destruísse ante o sopro desagregador da morte que passa.
A vida se manifesta, se desenvolve em infinitos matizes e incontáveis expressões. A forma se modifica e se estrutura, se agrega e se decompõe passando de uma para outra expressão vibratória sem que a energia que a vitaliza dependa das circunstâncias transitórias em que se exterioriza.
Não estão, portanto, mortos, no sentido de destruídos, os que transitaram ao teu lado e se transferiram de domicílio.
Prosseguem vivendo aqueles a quem amas. Aguarda um pouco, enquanto orando, a prece te luarize a alma e os envolvas no rumo por onde seguem.
Não te imponhas mentalmente com altas doses de mágoas, com interrogações pressionantes, arrojando na direção deles os petardos vigorosos da tua incontida aflição.
Esforça-te por encontrar a resignação.
O amor vence, quando verdadeiro, qualquer distância e é ponte entre abismos, encurtando caminhos.
Da mesma forma que anelas por volver a    , a falar-lhes, a ouvir-lhes, eles também o desejam.
Necessitam, porém, evoluir, quanto tu próprio.
Se te prendes a eles demoradamente ou os encarceras no egoísmo, desejando continuar uma etapa que ora se encerrou, não os fruirás, porque estarão na retaguarda.
Libertando-os, eles prosseguirão contigo, preparar-te-ão o reencontro, aguardar-te-ão...
Faze-te, a teu turno, digno deles, da sua confiança, e unge-te de amor com que enriqueças outras vidas em memória deles, por afeição a eles.
Não penses mais em termos de "adeus" e, sim, em expressões de "até logo mais".
Todos os homens na Terra são chamados a esse testemunho, o da temporária despedida. Considera, portanto, a imperiosa necessidade de pensar nessa injunção e deixa que a reflexão sobre a morte faça parte do teu programa de assuntos mentais, com que te armarás, desde já, para o retorno, ou para enfrentar em paz a partida dos teus amores...
Quanto àqueles que viste partir, de quem sofres saudades infinitas e impreenchíveis vazios no sentimento, entrega-os a Deus, confiando-os e confiando-te ao Pai, na certeza de que, se souberes abrir a alma à esperança e à fé, conseguirás senti-los, ouvi-los, deles haurindo a confortadora energia com que te fortalecerás até ao instante da união sem dor, sem sombra, sem separação pelos caminhos do tempo sem fim, no amanhã ditoso.

Joanna de Ângelis

Divaldo Pereira Franco

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Livro dos Médiuns – Janeiro de 1861


Livro dos Médiuns – Janeiro de 1861 - Portanto 152 anos de publicação desta obra.


O maior tratado sobre paranormalidade e mediunidade que o mundo já teve notícias. Pois, trata do caráter experimental e investigativo da Doutrina Espírita.

Obra fundamental que compõe um dos pilares do Espiritismo visando estudar e compreender uma nova ordem de fenômenos ditos Espíritas ou, mediúnicos que teriam como causa a intervenção dos Espíritos na realidade física e material.

Hoje falaremos sobre o Cap. XXl do ESE , que trata da fascinação, da mistificação de alguns médiuns, dos Espíritos enganadores, no estudo deste capítulo, que tem por título: Haverá Falsos Cristos e Falsos Profetas, veremos também, os perigos que os médiuns se submetem e como identificar uma boa comunicação mediúnica,  como saber se aquele Espírito é sério ou mistificador.

Rogamos então a Jesus; o maior médium que a humanidade terrestre já viu, pois Ele possuía todas as faculdades mediúnicas, vidência, clariaudiência, mediunidade de cura, ou efeitos físicos, pré-cognição, pré-ciência, porque ensinava a cerca do futuro, transfiguração, levitação, etc...

Que Ele nos ampare e proteja para que possamos realizar um bom trabalho.
Sabemos que a mediunidade sempre esteve presente em todos os tempos em nosso mundo. Desde o Egito antigo com as Pitonisas e os Hierofantes. Na Grécia com os Oráculos, como no Templo de Delfos onde os médiuns eram consultados quando alguém precisava de orientação espiritual.

Em Roma, as Sibilas, que eram mulheres que tinham o dom da profecia.

Na Índia os Rixis, ou Gurus.

Em Israel, os profetas, e assim por diante.

Entre os índios, os Xamãs, os Pajés.


Existiram também os bruxos ou magos, alquimistas que na verdade nada mais são que médiuns, palavra que Allan Kardec criou para designar  as pessoas que interagem com os Espíritos. Como está no no Cap. XlX, do Livro dos Médiuns onde nos orienta quando ao papel e a influência moral dos médiuns nas comunicações Espíritas.


Esses médiuns viam, ouviam ou sonhavam com anjos, santos e outros fenômenos que conhecemos como profecias ou milagres, fenômenos esses que concitavam essas pessoas para que  alertassem o povo sobre os perigos ou sorte que lhes era reservado.

E para sabermos se estamos tratando com um Espírito de caráter moral elevado basta que atentemos para as orientações dadas neste livro (LM) como em toda a codificação. Mas geralmente se a comunicação tratar de amor ao próximo sem personalismos, ou for de cunho moral elevado,  também há que se levar em conta o caráter e idoneidade do médium.

Como diz o Evangelho; É pela árvore que se conhece os frutos. E lá os apóstolos Lucas, Mateus e Marcos nos orientam.

E, quais são os frutos da Doutrina Espírita? Amor, Caridade, Perdão, Paciência, Benevolência, Indulgência, Humildade, Trabalho no bem. Isso tudo quem nos trouxe foi Jesus,  com seus exemplos vivenciados. Daí seu caráter de superioridade jamais encontrado entre nós.

Ele nos trás tudo isso para que possamos reconhecer entre as ovelhas do Seu rebanho os Lobos vestidos com pele de ovelha.

Muitas vezes alguns Espíritos pseudo-sábios vão enxertando opiniões pessoais em suas mensagens com uma sutileza quase imperceptível, tornando as vezes médiuns fascinados em suas orientações que muitas vezes são  esdrúxulas e que os levam ao ridículo, descredibilizando a mediunidade de modo geral e a Doutrina dos Espíritos que têm por missão guiar e esclarecer a humanidade.

Desta forma sabemos que a mediunidade sempre existiu, mas de acordo com a seriedade e retidão do médium, saberemos distinguir o que tem valor doutrinário ou não.

Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", Allan Kardec afirma que "no sentido evangélico, o vocábulo 'profeta' tem mais extensa significação. Diz-se de todo enviado de Deus com a missão de instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual. Pode, pois, um homem ser profeta sem fazer predições." Estamos passando atualmente por um período bastante conturbado para a Humanidade, em que os anseios do ser humano abrem espaço para o surgimento de "reveladores" que possam minimizar o seu sofrimento. Naturalmente surgem os mais diversos "profetas" que encontram eco no homem às suas revelações. O Espiritismo possibilita separarmos o joio do trigo.

Existiu há algum tempo, um líder espiritual  fundador  do Templo Solar, chamado Luc Jouret (1994) que influenciado pelas profecias de um certo Espírito fez com que dezenas de pessoas cometessem suicídio na esperança de irem habitar a estrela de Sírius porque acreditavam serem escolhidas por Deus.

Em 1978 – Jim Jones, juntamente com 914 pessoas tomou cianureto, ele acreditava e seus seguidores também que seriam conduzidos ao Reino dos Céus. 
E vários outros casos de fé  cega que leva milhares de pessoas ignorantes a cometerem desatinos em nome da fé porque acreditam nos Falsos Profetas que são pessoas fracas, sem conhecimento, que se deixam arrastar pelas orientações de espíritos maldosos e enganadores, que nada mais querem do que expor essas pessoas ao ridículo e comprometer ações dignas e edificantes. 
No Evangelho está escrito a Epístola de João; "Não creais em todos os Espíritos. Experimentai se os Espíritos são de Deus, porquanto, muitos falsos profetas se tem levantado no mundo".
Essa doutrina abençoada vem alargar nossos horizontes e esclarecer-nos quanto às nossa responsabilidades e quanto aos perigos que corremos com uma pratica irresponsável dos ensinamentos espiritistas. Porque aquele que tem muito mais  lhe será dado, e o que não tem (responsabilidade com os ensinamentos) até o pouco que tem lhe será tirado. 
Pensemos na grande responsabilidade que nos cabe enquanto espíritas e cristãos e não deixemos que lobos disfarçados entre em nossos rebanhos e, busquemos sempre a razão antes de acreditar cegamente em qualquer comunicação.
Abraços fraternos e votos de muita paz a todos.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

ENSINA-NOS A ORAR


O planalto da Judéia se eleva naquele local a quase 830 metros acima do nível do mar, sendo ali o seu ponto culminante. Ephrém é região bucólica, onde os damasqueiros se arrebentam em flores, se vestem de frutos, e as tulipas se multiplicam em campos verdejantes com a abundância do sol dourado, cujos poentes se demoram em fímbrias coloridas, contrastando com as sombras das noites em vitória. . .

A aldeia de Ephrém ou Efraim é um amontoado de casas singelas entre flores silvestres e roseiras variadas, situando-se sobre um largo terraço fértil do planalto árido, onde, no entanto, abundam nascentes cantantes e de cujas bordas se avistam no longo vale que se esconde em baixo das imensas costas talhadas a pique em alcantis, pelo lado do Moab, o tranquilo Jordão e o mar Morto. Dali, a visão dos horizontes é um convite à meditação, fazendo que o homem se apequene ante a grandeza de Deus.

Naquela paisagem tudo são convites às coisas divinas.

Nesse plano de exuberante beleza, o Mestre elucida os companheiros fiéis, quanto à comunhão com o Pai. Já lhes falara diversas vezes sobre a necessidade da oração e em muitas ocasiões deles se apartara para o silêncio da prece. Ensimesmado, frequentemente buscava a soledade para a ligação com Deus.  Através desse ministério ardente e apaixonado.

Os livros da fé ancestral, todos eles, se reportam à exaltação do Senhor, mediante o "abrir a boca" da alma e falar aos divinos ouvidos.

Aquela será a última primavera que passariam juntos. Os colóquios, as lições serão interrompidos, Ele o sabe. Ministra as últimas instruções. O Cordeiro inocente logo mais deverá marchar na direção do matadouro. Quanto há, no entanto, ainda, a dizer! São "crianças espirituais" aqueles companheiros, bulhentos e sem a noção exata do que lhes será pedido.

 O tempo urge!

As Suas vigílias são maiores e Seus solilóquios mais demorados.

Retornava desse colóquio, e a placidez da face denotava a vitalidade haurida no intercâmbio com o Pai...

Os discípulos aguardam-No com carinho, ansiedade, e inquirem-No quanto à melhor forma de orar, como dizer todos os ditos da alma Àquele que é a Vida e que sabe das necessidades de cada um em particular e de todos simultaneamente. . .

Havia, sim, em todos o desejo veemente de aprender com o Rabi, — que tantas lições lhes dispensará antes com invulgar sabedoria! — a mais eficiente das orações.

Inquiriam, porém: "se Deus nos conhece e sabe o de que temos maior urgência, porque se há de Lh'o rogar? Como fazê-lo, então?"

— "Ensina-nos a orar!" — pediu um dos discípulos, amigo devotado.

Seus olhos estavam incendiados de luz e nele havia aquela confiança pura da criança que se entrega em total doação e aguarda em tranquilidade enobrecida.

O Mestre relanceou o olhar pelas faces expectantes daqueles que O buscavam seguir e desejavam adquirir forças para, no futuro, se entregarem inteiramente ao Evangelho nascente; depois de sentir as ânsias que através dos tempos estrugiriam nos continuadores da Sua Doutrina, pelos caminhos do futuro, sintetizou as necessidades humanas em sete versos, os mais simples e harmoniosos que os humanos ouvidos jamais escutaram, proferindo a oração dominical.

As frases melódicas cantaram delicadas através dos Seus lábios como se um coral angélico ao longe modulasse um cantochão de incomparável melodia, acompanhando suavemente.

Uma invocação:

"Pai Nosso que estás nos Céus;"(*)

Glorificação d'Aquele que é a vida da vida, Causa Causica do existir, Natureza da Natureza— Nosso Pai!

Três desejos do ser na direção da Vida, após a referência sublime ao Doador de Bênçãos:

"Santificado seja o Teu Nome.

 "Venha a nós o Teu Reino,

 "Seja feita a Tua vontade, na terra como no céu;"

Eloquentes expressões de reconhecimento ao Altíssimo; humildade e submissão da alma que ora e se subordina às inexauríveis fontes da Mercê Excelsa; entrega total, em confiança ilimitada. Exaltação do Pai nas dimensões imensuráveis do Universo; respeito à grandeza da Sua Criação, através da alta consideração ao Seu Nome; resignação atual diante das Suas determinações divinas e divina presciência.

Canto de amor e abnegação!

Três rogativas, em que o homem compreende a própria pequenez e se levanta, súplice, confiante, porém, em que lhe não será negado nada daquilo que solicita:

"O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje;

"Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores;

"Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos de todo o mal."

A base da manutenção do corpo é o alimento sadio, diário, equilibrado, tanto quanto a vitalidade do espírito é a sintonia com as energias transcendentes — dá-nos hoje!

Sustento para a matéria e força para o espírito, de modo a prosseguir no roteiro de redenção, no qual exercita as experiências evolutivas.

Reconhecimento dos erros, equívocos e danos causados a si mesmo e ao próximo — perdoa-nos!,— ensejando reparação, através da oportunidade de refazer e recomeçar sem desânimo, superando-se e ajudando aos que nos são vítimas — como perdoamos aos que nos devem!...

Forças para as fraquezas, em forma de misericórdia de acréscimo, multiplicando as construções das células e das energias espirituais; reconhecimento das incontáveis fragilidades que a cada instante nos sitiam e nos surpreendem — livra-nos de todo o mal!

A musicalidade sublime canta em balada formosa na pauta da Natureza, conduzida pelo vento.

A mais singela, a mais completa oração jamais enunciada.

Há emoções nos espíritos que reconhecem a responsabilidade de conduzirem o sublime legado na direção do futuro.

 A ponte de intercâmbio entre os dois planos do mundo está lançada. Transitarão, agora, as forças mantenedoras do equilíbrio.

"Pedi e dar-se-vos-á;" — exorou o Pomicultor Divino.

"Ensina-nos a orar!" — rogara o discípulo ansioso.

 As virações daquela hora embalsamam o ar de mil odores sutis e constantes, e há festa nos corações.

O Reino de Deus está, agora, mais próximo. Divisam-se os seus limites e se vislumbram as suas construções...

Nenhum abismo, nenhum óbice. Vencidas as indecisões, os caminhos se abrem, convidativos, oferecendo o intercâmbio.

Aqueles homens que se levantarão logo mais da insignificância que os limita e irão avançar no rumo do infinito, doravante, orando, estarão em comunhão permanente com o Pai.

O homem sobe ao Pai no Céu — o Pai desce ao homem na Terra.

Já não há um díptico.

Do solilóquio chega-se ao diálogo.

E do diálogo o espírito sai refeito, num grande silêncio de paz e vitalidade, exaltando o amor de Deus na potencialidade inexcedível da oração.

"Ensina-nos a orar!"

"Pai Nosso que estás nos Céus..."

(*) Conquanto as divergências entre os textos de Mateus (6:9-15) e Lucas (11:1-4) preferimos as anotações do primeiro, embora aquele situasse a preciosa oração, em continuidade ao Sermão do Monte. Assim o fazemos, considerando a métrica e o ritmo que se observam nas narrações das línguas semitas e por registrar a omissão de todo um verso nas anotações de Lucas.  Outrossim, tomamos como lugar da ocorrência as circunvizinhanças da aldeia de Ephrém ou Efraim ao invés do Monte das Oliveiras, conforme a situam diversos exegetas e historiadores escriturísticos.

Nota da Autora espiritual. Amélia Rodrigues

sábado, 1 de junho de 2013



AÇOITANDO  O  AR  

“Eu por minha parte assim corro, não como na incerteza;  de tal modo combato, não como açoitado o ar.”  - Paulo.   ( I CORÍNTIOS, 9:26.) 
  
         Definindo o trabalho intenso que lhe era peculiar na extensão do Evangelho, disse o apóstolo Paulo com inegável acerto:  -“Eu por minha parte assim corro, não como na incerteza; de tal modo combato, não como açoitado o ar”. 
         Hoje como ontem, milhares de aprendizes da Boa Nova gastam-se inutilmente, através da vida agitada, asseverando-se em atividade do Mestre, quando apenas simbolizam números vazios nos quadros da precipitação. 
         Possuem planos admiráveis que nunca realizam. 
         Comentam, apressados, os méritos do amor, guardando lamentável indiferença para com determinados  familiares que o Senhor lhes confia. 
         Exaltam a tolerância, como fator de equilíbrio no sustento da paz, contudo se queixam amargamente do chefe que lhes preside o serviço ou do subordinado que lhes empresta concurso. 
        Recebem os problemas que o mundo lhes oferece, buscando o escape mental. 
         Expressam-se, acalorados, em questões de fé, alimentando dúvidas íntimas quanto à imortalidade da alma. 
           Exigem a regeneração plena dos outros, sem cogitar de reajustamento a si mesmos. 
          Clamam, acusam, projetam, discutem, correm, sonham... 
          Mas, visitados pela crise que afere em cada Espírito os valores que acumulou em si próprio, diante da vida eterna, vacilam, desencantados, nas sombras da incerteza, e, quando chamados pela morte do corpo à grande renovação, reconhecem, aflitos, que em verdade estiveram na carne combatendo improficuamente,  como quem passa na Terra açoitando o ar.
Emmanuel.
Palavras de Vida Eterna
Psicografia de Chico Xavier

quinta-feira, 9 de maio de 2013

DIREITO SAGRADO



“Porque a vós foi concedido, em relação ao Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele.” Paulo (Filipenses, 1:29)
Cooperar pessoalmente com os administradores humanos, em sentido direto, sempre constitui objeto da ambição dos servidores dessa ou daquela organização terrestre.
  Ato invariável de confiança, a partilha da responsabilidade, entre o superior que sabe determinar e fazer justiça e o subordinado que sabe servir, institui a base de harmonia para a ação diária, realização essa que todas as instituições procuram atingir.
  Muitos discípulos do Cristianismo parecem ignorar que, em relação a Jesus, a reciprocidade é a mesma, elevada ao grau máximo, no terreno da fidelidade e da compreensão.
Mais entendimento do programa divino significa maior expressão de testemunho individual nos serviços do Mestre.
Competência dilatada – deveres crescidos.
Mais luz – mais visão.
Muitos homens, naturalmente aproveitáveis em certas características intelectuais, mas ainda enfermos da mente, desejariam aceitar o Salvador e crer n'Ele, mas não conseguem, de pronto, semelhante edificação íntima. Em vista da ignorância que não removem e dos caprichos que acariciam, falta-lhes a integração no direito de sentir as verdades de Jesus, o que somente conseguirão quando se reajustem, o que se faz indispensável.
Todavia, o discípulo admitido aos benefícios da crença, foi considerado digno de conviver espiritualmente com o Mestre. Entre ele e o Senhor já existe a partilha da confiança e da responsabilidade. Contudo, enquanto perseveram as alegrias de Belém e as glórias de Cafarnaum, o trabalho da fé se desdobra maravilhoso, mas, em sobrevindo a divisão das angústias da cruz, muitos aprendizes fogem receando o sofrimento e revelando-se indignos da escolha.
    Os que assim procedem, categorizam-se à conta de loucos, porquanto, subtrair-se à colaboração com o Cristo, é menosprezar um direito sagrado.
 Emmanuel


Nesta página de imensa profundidade filosófica Emmanuel explica uma passagem “aparentemente” compreensível de Paulo, onde diz aos Filipenses que a eles havia sido concedido a dádiva de crer na mensagem de Jesus.
Emmanuel trabalhando essa expressão, explica que embora os recursos intelectuais e toda a edificação, o homem (humanidade), não está preparada para acolher na sua intimidade a verdadeira crença na mensagem trazida à nós por Jesus. É porque essa escolha, essa capacidade demanda renovação íntima e abandono dos caprichos (vícios) pessoais adquiridos ao longo de muitas vivências, e, nem todos estão dispostos ao trabalho da renovação íntima espiritual e por essa razão, embora sejamos portadores de dilatadas competências intelectuais, com visão ampliada, não nos encontramos ainda preparados para a comunhão espiritual com Jesus.     E, aqueles que já receberam a oportunidade dessa comunhão espiritual, devem estar conscientes de que essa união implica confiança, partilha de responsabilidades.
Enquanto o trabalho de divulgação da Boa Nova, de divulgação do Evangelho e da Doutrina Espírita se situa no campo das alegrias de Belém e das glórias de Cafarnaum; quando o trabalho segue sem problemas, sem ataques, sem críticas e sem testemunhos a maioria dos discípulos mantém sua fé e continuam perseverantes na sua tarefa, todavia, quando Jesus aumenta o grau de confiança no discípulo e passa a partilhar as angústias da cruz com ele, raros são os que permanecem e perseveram na tarefa. A maioria foge, receando o sofrimento. E como diz Emmanuel: ...."- revelando-se indigno da escolha." Todavia, essa atitude impensada de retorno é no fundo, um menosprezo à um direito sagrado. O direito de padecer por Jesus, ao lado d’Ele, exercendo a tarefa e partilhando responsabilidades.
Interpretação de Haroldo Dutra Dias. – podcast 30 em 7 minutos com Emmanuel. Portal SER. http://www.portalser.org/

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Do livro FONTE VIVA


EDUCA

"Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós ?" - Paulo. (I CORINTIOS, 3: 16.)


Na semente minúscula reside o germe do tronco benfeitor.
No coração da terra, há melodias da fonte.
No bloco de pedra, há obras-primas de estatuária.
Entretanto, o pomar reclama esforço ativo.
A corrente cristalina pede aquedutos para transportar-se imaculada.
A jóia de escultura pede milagres do buril.
Também o espírito traz consigo o gene da Divindade.
Deus está em nós, quanto estamos em Deus.
Mas, para que a luz divina se destaque da treva humana, é necessário que os processos educativos da vida nos trabalhem no empedrado caminho dos milênios.
Somente o coração enobrecido no grande entendimento pode vazar o heroísmo santificante.
Apenas o cérebro cultivado pode produzir iluminadas formas de pensamento.
Só a grandeza espiritual consegue gerar a palavra equilibrada, o verbo sublime e a voz consoladora.
Interpretemos a dor e o trabalho por artistas celestes de nosso aperfeiçoamento.
Educa e transformarás a irracional idade em inteligência, a inteligência em humanidade e a humanidade em angelitude.
Educa e edificarás o paraíso na Terra.
Se sabemos que o Senhor habita em nós, aperfeiçoemos a nossa vida, a fim de manifestá-lo.


Do livro FONTE VIVA
FRANCISCO CANDIDO XAVIER
DITADO PELO ESPÍRITO EMMANUEL

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Missionários Da Luz


No plano dos sonhos

Após alguns minutos de conversação encantadora, o Irmão Francisco acercou-se do orientador, indagando sobre os objetivos da reunião da noite.

– Sim – esclareceu Alexandre, afável –, teremos algum trabalho de esclarecimento geral a amigos nossos, relativamente a problemas de mediunidade e psiquismo, sem minúcias particulares.
– Se nos permite – tornou o interlocutor –, estimaria trazer alguns companheiros que colaboram frequentemente conosco.
Seria para nós grande satisfação vê-los aproveitando os minutos de sono físico.
– Sem dúvida. Destina-se o serviço de hoje à preparação de cooperadores nossos, ainda encarnados na Crosta. Estaremos à sua disposição e receberemos seus auxiliares com alegria.
Francisco agradeceu sensibilizado e perguntou:
– Poderemos providenciar?
– Imediatamente – explicou o instrutor, sem hesitação – conduza os amigos ao sítio de seu conhecimento.
Afastou-se o grupo de socorristas, deixando-me verdadeiro mundo de pensamentos novos. Segundo informações anteriores, Alexandre dirigiria, naquela noite, pequena assembleia de estudiosos e, assim que nos vimos a sós, explicou-me, solícito:
– Nosso núcleo de estudantes terrestres já possui certa expressão numérica; no entanto, faltam-lhe determinadas qualidades essenciais para funcionar com pleno proveito. Em vista disso, imprescindível dotar os companheiros de conhecimentos mais construtivos.
E, como julgasse útil fornecer-me informações pessoais destinadas a minha própria elucidação, acrescentou, gentilmente:
– E os irmãos que comparecem – indaguei, curioso – conservam a recordação integral dos serviços partilhados, de estudos levados a efeito e observações ouvidas?
Alexandre pensou um momento e considerou:
– Mais tarde, a experiência mostrará a você como é reduzida a capacidade sensorial. O homem eterno guarda a lembrança completa e conserva consigo todos os ensinamentos, intensificando-os e valorizando-os, de acordo com o estado evolutivo que lhe é próprio. O homem físico, entretanto, escravo de limitações necessárias, não pode ir tão longe. O cérebro de carne, pelas injunções da luta a que o Espírito foi chamado a viver, é aparelho de potencial reduzido, dependendo muito da iluminação de seu detentor, no que se refere à fixação de determinadas bênçãos divinas. Desse modo, André, o arquivo de semelhantes reminiscências, no livro temporário das células cerebrais, é muito diferente nos discípulos entre si, variando de alma para alma. Entretanto, cabe-me acrescentar que, na memória de todos os irmãos de boa vontade, permanecerá, de qualquer modo, o benefício, ainda mesmo que eles, no período de vigília, não consigam positivar a origem. As aulas, no teor daquela a que você assistirá nesta noite, são mensageiras de inexprimíveis utilidades práticas. Em despertando, na Crosta, depois delas, os aprendizes experimentam alívio, repouso e esperança, a par da aquisição de novos valores educativos. É certo que não podem reviver os pormenores, mas guardarão a essência, sentindo-se revigorados, de inexplicável maneira para eles, não só a retomar a luta diária no corpo físico, mas também a beneficiar o próximo e combater, com êxito, as próprias imperfeições. Seus pensamentos tornam-se mais claros, os sentimentos mais elevados e as preces mais respeitosas e produtivas, enriquecendo-se lhes as observações e trabalhos de cada dia.
– É lastimável – disse eu, valendo-me de pausa mais longa que todos os membros do grupo não possam frequentar, em massa, as instruções dessa natureza. Seria de extraordinária significação o ato de se congregarem mais de trezentas pessoas para os mesmos fins santificantes, recebendo, em conjunto, sublimes bênçãos de iluminação.
– Sem dúvida – redarguiu o orientador, no otimismo de sempre. – No entanto, não podemos violentar ninguém. Toda elevação representa uma subida e toda subida pede esforço de ascensão. Se os nossos amigos não se aproveitam da força que lhes é peculiar, se menosprezam os seus próprios direitos divinos, por olvidarem e por vezes detestarem os sagrados deveres que o Pai lhes confiou, como operar por eles, se constitui lei primordial da vida a realização divina e eterna para cada um de nós?
A observação era profunda e indiscutível.
Há esse tempo, defrontáramos vasto edifício que impressionava pelas linhas modestas, embora transbordantes de luz.
– Vamos agora ao trabalho! – convocou Alexandre, resoluto.
– Mas – objetei por minha vez – não se efetuarão as aulas, na sede do agrupamento onde se processam os serviços a seu cargo?
– Se o trabalho – respondeu ele, atencioso – fosse puramente consagrado às entidades libertas do corpo material, poderíamos desenvolver os nossos esforços, ali mesmo, com o maior êxito, mas, no presente caso, devemos atender a irmãos ainda encarnados, que vêm até nós em condições especialíssimas, e precisamos aproveitar os recursos magnéticos dos amigos que ainda se encontram igualmente em luta na Terra.
E chegados diante da porta de entrada, onde se movimentava grande número de companheiros de nosso plano, o instrutor explicou:
– Temos aqui uma nobre instituição espiritista, a serviço dos necessitados, dos tristes, dos sofredores. O sagrado espírito de família evangélica permanece vivo nesta casa de amor cristão que o Espiritismo ergueu, por intermédio de uma venerável missionária do Cristo. Nossos trabalhos se desdobrarão aqui com mais eficiência, relativamente aos fins a que se destinam.
– Como é interessante – acentuei – o fato de necessitarmos dos ambientes domésticos para instruções aos companheiros encarnados!
– Sim – comentou Alexandre, com elevada sabedoria –, você não pode esquecer que grandes ensinamentos do próprio Mestre foram ministrados no seio da família. A primeira instituição visível do Cristianismo foi o lar pobre de Simão Pedro, em Cafarnaum. Uma das primeiras manifestações de Nosso Senhor, diante do povo, foi a multiplicação das alegrias familiares, numa festa de núpcias em pleno aconchego do lar. Muitas vezes visitou Jesus as casas residenciais de pecadores confessos, acendendo novas luzes nos corações. A última reunião com os discípulos verificou-se no cenáculo doméstico. O primeiro núcleo de serviço cristão em Jerusalém foi ainda a moradia simples de Pedro, então transformado em baluarte inexpugnável da nova fé. Inegavelmente, todo templo de pedra, dignamente superintendido, funciona qual farol no seio das sombras, indicando os caminhos retos aos navegantes do mundo, mas não podemos esquecer que o movimento vital das ideias e realizações baseia-se na igreja viva do espírito, no coração do povo de Deus. Sem adesão do sentimento popular, na esfera da crença vivida no âmago de cada um, qualquer manifestação religiosa reduz-se a mero culto externo. Por isso mesmo.
André, no futuro da Humanidade, os templos materiais do Cristianismo estarão transformados em igrejas-escolas, igrejas orfanatos, igrejas-hospitais, onde não somente o sacerdote da fé veicule a palavra de interpretação, mas onde a criança encontre arrimo e esclarecimento, o jovem a preparação necessária para as realizações dignas do caráter e do sentimento, o doente o remédio salutar, o ignorante a luz, o velho o amparo e a esperança. O Espiritismo evangélico é também o grande restaurador das antigas igrejas apostólicas, amorosas e trabalhadoras. Seus intérpretes fiéis serão auxiliares preciosos na transformação dos parlamentos teológicos em academias de espiritualidade, das catedrais de pedra em lares acolhedores de Jesus.
Daria tudo o que estivesse ao meu alcance para continuar ouvindo as encantadoras elucidações do orientador, mas, nesse instante, transpúnhamos o limiar.
Verifiquei que faltavam apenas cinco minutos para duas horas da madrugada.
Pelo grande número de entidades que vieram céleres ao nosso encontro, percebi que havia enorme interesse em torno da palestra instrutiva da noite. Não se achavam presentes apenas os aprendizes ligados ao esforço de Alexandre, em sentido direto, mas também outros amigos, trazidos até ali por afeiçoados do plano espiritual.
Acercou-se de nós, com mais intimidade, pequeno grupo de companheiros, destacando-se um deles que conversou com Alexandre, de maneira mais significativa.
– Ainda não chegaram todos? – indagou o instrutor, com interesse afetivo, após trocarem as primeiras impressões.
Percebi claramente que se referia aos irmãos encarnados que deveriam comparecer na cota de frequência do grupo de que era ele um dos diretores espirituais.
– Faltam-nos apenas dois companheiros – elucidou o interpelado. – Até o momento, Vieira e Marcondes ainda não chegaram.
– Urge iniciar os trabalhos – exclamou Alexandre, sem afetação – devemos terminar a tarefa às quatro horas no máximo.
E, mostrando singular interesse de amigo, acrescentou:
– Quem sabe se foram vítimas de algum acidente? Convém positivar no espírito de calma decisão que lhe é característico, recomendou ao auxiliar que lhe prestava informações:
– Sertório, enquanto vou ultimar algumas providências para as instruções da noite, observe o que se passa.
Respeitoso, o subordinado interrogou:
– Caso estejam os nossos irmãos sob a influência de entidades criminosas, como devo proceder?
– Deixá-los-á, então, onde estiverem – replicou o instrutor, resoluto –; o momento não comporta grandes conversações com os que se prendem, deliberadamente, ao plano inferior. Findo o trabalho, você mesmo providenciará os recursos que se façam necessários.
Dispunha-se o mensageiro a partir, quando o orientador, percebendo-me o ardente interesse em acompanhá-lo, acrescentou:
– Se deseja, André, poderá seguir, colaborando com o emissário em serviço, Sertório terá prazer em sua companhia.
Agradeci extremamente satisfeito e abracei o auxiliar de Alexandre, que me sorriu acolhedoramente.
Saímos.
Era indispensável atender o mandado com presteza; todavia, satisfazendo-me a curiosidade, Sertório explicou, generoso:
– Quando encarnados, na Crosta, não temos bastante consciência dos serviços realizados durante o sono físico; contudo, esses trabalhos são inexprimíveis e imensos. Se todos os homens prezassem seriamente o valor da preparação espiritual, diante de semelhante gênero de tarefa, certo efetuariam as conquistas mais brilhantes, nos domínios psíquicos, ainda mesmo quando ligados aos envoltórios inferiores. Infelizmente, porém, a maioria se vale, inconscientemente, do repouso noturno para sair à caça de emoções frívolas ou menos dignas. Relaxam-se as defesas próprias, e certos impulsos, longamente sopitados durante a vigília, extravasam em todas as direções, por falta de educação espiritual, verdadeiramente sentida e vivida.
Interessado em esclarecimentos completos. Indaguei:
– Entretanto, isto ocorre com aprendizes de cursos avançados do Espiritualismo? Poderiam ser vítimas desses enganos alunos de um instrutor da ordem de Alexandre?
– Como não? – tornou Sertório, fraternalmente. – Com referência a essa probabilidade, não tenha qualquer dúvida. Quantos pregam a Verdade, sem aderirem intimamente a ela? Quantos repetem fórmulas de esperança e paz, desesperando e perseguindo, no fundo do coração? Há sempre muitos “chamados” em todos os setores de construção e aprimoramento do mundo! Os “escolhidos”, contudo, são sempre poucos.
Completando o pensamento, como a escoimá-lo de qualquer falsa noção de particularismos na obra divina, Sertório acrescentou:
– E precisamos reajustar nossas definições sobre os “escolhidos”. Os companheiros assim classificados não são especialmente favorecidos pela graça divina, que é sempre a mesma fonte de bênçãos para todos. Sabemos que a “escolha”, em qualquer trabalho construtivo, não exclui a “qualidade”, e se o homem não oferece qualidade superior para o serviço divino, em hipótese alguma deve esperar a distinção da escolha. Infere-se, pois, que Deus chama todos os filhos à cooperação em sua obra augusta, mas somente os devotados, persistentes, operosos e fiéis constroem qualidades eternas que os tornam dignos de grandes tarefas. E, reconhecendo-se que as qualidades são frutos de construções nossas, nunca poderemos esquecer que a escolha divina começará pelo esforço de cada um.
A tese do companheiro era assaz interessante e educativa, mas havíamos atingido pequeno edifício, em frente do qual Sertório se deteve e falou:
– É a residência de Vieira. Vejamos o que se passa.
Acompanhei-o em silêncio.
Em poucos instantes, encontrávamo-nos dentro de quarto confortável, onde dormia um homem idoso, fazendo ruído singular. Via-se-lhe, perfeitamente, o corpo perispirítico unido à forma física, embora parcialmente desligados entre si. Ao seu lado, permanecia uma entidade singular, trajando vestes absolutamente negras. Notei que o companheiro adormecido permanecia sob impressões de doloroso pavor. Gritos agudos escapavam-lhe da garganta. Sufocava-se, angustiadamente, enquanto a entidade escura fazia gestos que eu não conseguia compreender.
Sertório acercou-se de mim e observou:
– Vieira está sofrendo um pesadelo cruel.
E indicando a entidade estranha:
– Creio que ele terá atraído até aqui o visitante que o espanta.
Com efeito, muito delicadamente, o meu interlocutor começou a dialogar com a entidade de luto:
– O amigo é parente do companheiro que dorme?
– Não, não. Somos conhecidos velhos.
E muito impaciente, acentuou:  
– Hoje, à noite, Vieira me chamou com as suas reiteradas lembranças e acusou-me de faltas que não cometi, conversando levianamente com a família. Isso, como é natural, desgostou-me.
Não bastará o que tenho sofrido, depois da morte? Ainda precisarei ouvir falsos testemunhos de amigos maledicentes? Não poderia esperar dele semelhante procedimento, em virtude das relações afetivas que nos uniam as famílias, desde alguns anos. Vieira foi sempre pessoa de minha confiança. Em razão da surpresa, deliberei esperá-lo nos momentos de sono, a fim de prestar-lhe os necessários esclarecimentos.
O estranho visitante. Todavia, fez uma pausa, sorriu irônico, e continuou:
– Entretanto, desde o momento em que me pus a explicar-lhe a situação do passado, informando-o quanto aos verdadeiros móveis de minhas iniciativas e resoluções na vida carnal, para que não prossiga caluniando-me o nome, embora sem intenção, Vieira fez este rosto de pavor que estão vendo e parece não desejar ouvir as minhas verdades.
Interessado nas lições novas, aproximei-me do amigo, cujo corpo descansava em posição horizontal, e senti-lhe o suor frio ensopando os lençóis. Não revelava compreender convenientemente o auxílio que lhe era trazido, fixando-nos com estranheza e ansiedade, intensificando, ainda mais, os gemidos gritantes que lhe escapavam da boca.
Sentindo a silenciosa reprovação de Sertório, o habitante das zonas inferiores dirigiu-lhe a palavra de modo especial:
– O senhor admite que devamos ouvir impassíveis os remoques da leviandade? Não será passível de censura e punição o amigo infiel que se vale das imposições da morte para caluniar e deprimir? Se Vieira sentiu-se no direito de acusar-me, desconhecendo certas particularidades dos problemas de minha vida privada, não é justo que me tolere os esclarecimentos até ao fim? Não sabe ele, acaso que os mortos continuam vivos? Ignorará, porventura, que a memória de cada companheiro deve ser sagrada? Ora esta! Eu mesmo já lhe ouvi, em minha nova condição de desencarnado, longas dissertações referentes ao respeito que devemos uns aos outros... Não considera, pois, que tenho motivos justos para exigir um legítimo entendimento?
O interpelado esboçou um gesto de complacência e observou:
– Talvez esteja com a razão, meu caro. Entretanto, creio deva desculpar seu amigo! Como exigir dos outros conduta rigorosamente correta, se ainda não somos criaturas irrepreensíveis? Tenha calma, sejamos caridosos uns para com os outros!...
E, enquanto a entidade se punha a meditar nas palavras ouvidas. Sertório falou-me em tom discreto:
– Vieira não poderá comparecer esta noite aos trabalhos.
Não pude reprimir a má impressão que a cena me causava e, talvez porque eu fizesse um olhar suplicante, advogando a causa do pobre irmão, quase a desencarnar-se de medo, o auxiliar de Alexandre prosseguiu:
– Retirar violentamente a visita, cuja presença ele próprio propiciou, não é tarefa compatível com as minhas possibilidades do momento. Mas podemos socorrê-lo, acordando-o.
E, sem pestanejar, sacudiu o adormecido, energicamente, gritando-lhe o nome com força.
Vieira despertou confuso, estremunhando, sob enorme fadiga, e ouvi-o exclamar, palidíssimo:
– Graças a Deus, acordei! Que pesadelo terrível!... Será crível que eu tenha lutado com o fantasma do velho Barbosa? Não! Não posso acreditar!...
Não nos viu, nem identificou a presença da entidade enlutada, que ali permaneceu até não sei quando. E, ao retirarmo-nos, ainda lhe notei as interrogações íntimas, indagando de si mesmo sobre o que teria ingerido ao jantar, tentando justificar o susto cruel com pretextos de origem fisiológica. Longe de auscultar a própria consciência, com respeito à maledicência e à leviandade, procurava materializar a lição no próprio estômago, buscando furtar-se à realidade.
Sertório, porém, não me proporcionou ensejo a maiores reflexões. Convocando-me ao dever imediato, acrescentou:
– Visitemos o Marcondes. Não temos tempo a perder.
Daí a dois minutos, penetrávamos outro apartamento privado; todavia, o quadro agora era muito mais triste e constrangedor.
Marcondes estava, de fato, ali mesmo, parcialmente desligado do corpo físico, que descansava com bonita aparência, sob as colchas rendadas. Não se encontrava ele sob impressões de pavor, como acontecia ao primeiro visitado; entretanto, revelava a posição de relaxamento, característica dos viciados do ópio. Ao seu lado, três entidades femininas de galhofeira expressão permaneciam em atitude menos edificante.
Vendo-nos, de súbito, o dono do apartamento surpreendeu-se, de maneira indisfarçável, mormente em fixando Sertório, que era de seu mais antigo conhecimento. Levantou-se, envergonhado, e ensaiou algumas explicações com dificuldade:
– Meu amigo – começou a dizer, dirigindo-se ao auxiliar de Alexandre –, já sei que vem procurar-me... Não sei como esclarecer o que ocorre...
Não pôde, contudo, prosseguir e mergulhou a cabeça nas mãos, como se desejasse esconder-se de si mesmo.
A essa altura da cena constrangedora, verifiquei, então, sem vislumbres de dúvida, que as entidades visitantes eram da pior espécie, de quantas conhecia eu nas regiões das sombras.
Irritadas talvez com o recuo do companheiro, que se revelava triste e humilhado, prorromperam em grande algazarra, acercando-se mais intensamente de nós, sem o mínimo respeito.
– Impossível que nos arrebatem Marcondes! – disse uma delas, enfaticamente, – Afinal de contas, vim de muito longe para perder meu tempo assim, sem mais nem menos!
– Ele mesmo nos chamou para a noite de hoje – exclamou a segunda, atrevidamente – e não se afastará de modo algum.
Sertório ouvia com serenidade, evidenciando íntima compaixão.
A terceira entidade, que parecia reter instintos inferiores mais completos, aproximou-se de nós com terrível expressão de sarcasmo e falou, dando-me a entender que aquela não era a primeira vez que Sertório procurava o sitio para os mesmos fins e nas mesmas circunstâncias:
– Os senhores não passam de intrusos. Marcondes é fraco, deixando-se impressionar pela presença de ambos. Nós, todavia, faremos a reação. Não conseguirão arrancar-nos o predileto.
E gargalhando, irônica, acentuava:
– Também temos um curso de prazer. Marcondes não se afastará.
Contrariamente aos meus impulsos, Sertório não demonstrava a mínima atenção. As palavras e expressões daquela criatura, porém, irritavam-me.
Ao meu lado, o auxiliar de Alexandre mantinha-se extremamente bondoso. A própria vítima permanecia humilde e triste.
Porque semelhantes insultos? Ia responder alguma coisa, no sentido de esclarecer o caso em termos precisos, quando Sertório me deteve:
– André, contenha-se! Um minuto de conversação atenciosa com as tentações provocadoras do plano inferior pode induzir-nos a perder um século.
Em seguida, com invejável tranquilidade, dirigiu-se ao interessado, perguntando, sem espírito de censura:
– Marcondes, que contas darei hoje de você, meu amigo?
O interpelado respondeu, lacrimoso e humilhado:
– Oh, Sertório, como é difícil manter o coração nos caminhos retos! Perdoe-me... Não sei como isto aconteceu... Não posso explicar-me!
Mas Sertório parecia pouco disposto a cultivar lamentações e mostrando-se muito interessado em aproveitar o tempo, interrompeu-o:
– Sim. Marcondes. Cada qual escolhe as companhias que prefere. Futuramente você compreenderá que somos seus amigos leais e que lhe desejamos todo o bem.
Despejaram as mulheres nova série de frases ridicularizadoras. Marcondes começou, de novo, a lastimar-se, mas o mensageiro de Alexandre, sem hesitar, tomou-me a destra e regressamos à via pública.
– Voltemos imediatamente – disse ele, decidido.
– E em que ficamos? – indaguei – não vai acordá-lo?
– Não. Não podemos agir aqui do mesmo modo. Marcondes deve demorar-se em tal situação, para que amanhã a lembrança desagradável seja mais duradoura, fortificando lhe a repugnância pelo mal.
– Que fazer, então? – perguntei, espantado.
– Diremos ao nosso orientador o que ocorre – redarguiu Sertório, calmamente – é o que nos cabe levar a efeito.
E, sintetizando longas considerações que poderia expender relativamente ao assunto, frisou:
– Por agora, André, chama-nos o dever mais alto, no campo de nossa jornada para Deus. Entretanto, quando terminarem as instruções da noite, voltarei a ver o que é possível efetuar em favor de nossos pobres amigos. No momento, não devemos perder os minutos. As preleções de Alexandre não se destinam somente ao preparo dos nossos irmãos que ainda se ligam aos envoltórios de carne, na superfície da Crosta; são igualmente valiosas para nós outros, que necessitamos enriquecer possibilidades para socorrer, com êxito, os companheiros encarnados.
– Sim, concordo – respondi. – No entanto, a situação de Vieira e Marcondes sensibiliza-me fundamente.
Sertório, porém, cortou-me a palavra, rematando, seguro de si mesmo:
– Conserve seu sentimento, que é sagrado; não se arrisque, porém, a sentimentalismo doentio. Esteja tranquilo quanto à assistência, que não lhes faltará no momento oportuno; não se esqueça, porém, de que, se eles mesmos algemaram o coração em semelhantes cárceres, é natural que adquiram alguma experiência  proveitosa à custa do próprio desapontamento.  

Missionários Da Luz
Autor: André Luiz  
Psicografia: Francisco Cândido Xavier