SACRIFÍCIO
E AMOR
Invariavelmente, quando se fala da sublime doação do Mestre ao seu rebanho, entregando-lhe a própria vida, assevera-se que este foi-LHE um grande sacrifício, como se Ele não tivesse conhecimento, desde antes, a respeito da necessidade de demonstrar a inefável grandeza do Seu amor.
O
conceito de sacrifício, em tão elevada demonstração de afeto, não se ajusta à
realidade, porquanto Ele marchou para o matadouro absolutamente seguro, consciente e confiante
da necessidade de fazê-lo, a fim de que, dessa maneira, pudesse despertar Seus
afeiçoados para o significado da Sua entrega total.
Estivera
com todos em momentos felizes, oferecendo-lhes bênçãos de saúde e de
conhecimento, de esperança e de paz, informando, entretanto, que a existência
física não é definitiva e que todos deveriam preparar-se para o enfrentamento
com suas vicissitudes e os naturais sofrimentos.
Restituía-lhes
a saúde, mas não impedia que viessem a morrer. Proporcionava-lhes júbilos,
porém não evitava que fossem visitados pela tristeza que decorre do processo de
evolução ante os dissabores e as lições morais de crescimento íntimo.
Concedia-lhes
paz, entretanto, não se permitia impossibilitar a luta que cada qual deve
travar, a fim de autoconhecer-se e de
encontrar o rumo da iluminação.
Mimetizava-os
com Sua ternura, todavia, era necessário que se esforçassem para preservá-la.
Jamais
de os deixou de amparar e de os auxiliar no crescimento íntimo para Deus.
Abriu-lhes
os olhos da alma para o discernimento e para a razão, concitou-os ao trabalho e
à solidariedade vivendo a serviço do Pai, sem jamais queixar-se ou exigir-lhes
o que quer que fosse.
Tornara-se,
portanto, indispensável demonstrar-lhes a grandeza desse amor, oferecendo a
existência em holocausto no rumo da Vida Eterna , última e vigorosa maneira de
fazê-los crer.
Não
foi, portanto, um sacrifício, no sentido de um esforço de imolação entre
desespero e luta renhida.
Sacrifício,
ser-Lhe-ia deixar ao próprio destino aqueles que o Pai Lhe confiara para
pastorear, conduzindo-os pelo rumo certo do dever e da conquista de si mesmos.
Seria
também sacrifício se, por acaso, se houvesse eximido da oferenda máxima que se
tem notícia, para que cada qual pudesse aprender através do sofrimento, que
somente no dever se encontra a razão essencial da existência humana.
A
cruz, que sempre foi um símbolo de humilhação e de desgraça, de punição e de
corrigenda severa, com Jesus tornou-se asas de libertação, facultando o vôo no
rumo do infinito.
Em
razão disso, Ele doou a Sua vida para que todos a tivéssemos em abundância,
lutando pessoalmente, cada qual, por adquirí-la.
Quando
se ama, nada constitui esforço, sofrimento, sacrifício.
O
amor é tão rico de carinho e de bênçãos, que se multiplica, à medida que se
oferece, jamais diminuindo de
intensidade quanto mais se distribui.
Invariavelmente,
as criaturas consideram-no uma operação de reciprocidade, mediante a qual a
permuta dos sentimentos faz-se estímulo para o seu prosseguimento.
De
alguma forma, porém, essa expressão de amor não deixa de ser o processo que o
levará à sublimação do querer e do doar,
Saindo
do instinto, que é todo posse, matriz do egoísmo perturbador, aformoseia-se com
a experiência afetiva, agigantando-se e tornando-se maior na proporção da
abnegação e do devotamento de que se faz
portador.
O amor nunca se exalta, nem
reclama, porque é fonte de compreensão, nada obstante, também de educação das
emoções, do comportamento da vida.
O
Mestre sempre ensinava, e o clímax dessas lições foi Sua crucificação, mediante
a qual, em forma de tragédia, atrairia todos a Ele.
O
ser humano, infelizmente, ainda necessita do espetáculo ou da terapia do
choque, de modo a despertar do letargo a que se entrega.
Isso
ocorre em todos os campos do relacionamento social.
Quando
os fatos transcorrem naturais e sem comoção, não se tornam de aceitação
imediata, pacifica e penetrante. No entanto, quando produzem impacto, sensação
peculiar, despertam interesse, discussão e aceitação na maioria das vezes.
Eis porque, embora seja o amor
a fonte inexaurível de enriquecimento, o progresso do ser como indivíduo e da
sociedade como organismo coletivo, tem sido mediante a dor, especialmente
estabelecida pelos testemunhos que são considerados sacrifícios do prazer e do
gozo imediato.
Dessa
forma, a deia vigente é de que a suprema doação do Mestre seria também um
sacrifício em favor dos Seus afeiçoados, quando, diferindo do convencional, o
Seu exemplo de enriquecimento é um convite à reflexão. Se Ele, que não tinha
culpa, foi conduzido ao máximo de entrega, é natural que as criaturas,
caracterizadas pelas cargas emocionais de desequilíbrio e dívidas morais, não
se possam considerar exceção, eximindo-se ao padecimento purificador,
NEle
temos a oferenda de ternura e de alegria, embora as excruciantes que padeceu,
confirmando Sua procedência de enviado de Deus, o Messias que as tormentosas
condições israelitas negavam-se a aceitar.
Na
sua desenfreada alucinação pelo poder e dominação pelo orgulho, mediante o
qual, a raça eleita governaria o mundo dos gentios, era muito difícil aceitar
aquele Rei especial, sem trono nem exército homocida, sem áulicos com trombetas
nem embaixadores soberbos precedendo-o.
Como
o Seu reino não era desse mundo, os ministros servidores não se apresentavam
visíveis senão, à semelhança de João Batista, o Precursor, ou dos profetas que
vieram bem antes dEle e foram, uns ridicularizados, outros perseguidos, outros
mortos...
Esforça-te,
por tua vez, para entender a doação da vida como a entrega amorosa Àquele que a
gerou.
Aprende a renunciar aos
pequenos apegos, crescendo na direção da superação dos tormentosos desejos,
aqueles de grande porte, em homenagem à tua auto-iluminação, à tua ascensão.
É sempre necessário morrer, a
fim de viver em plenitude.
Tem como exemplo Jesus em
todas as situações, e se amas, tudo quanto ofereças, não constitua sacrifício
nem sofrimento, antes mensagem de alegria e paz.
Joanna
de Angelis
Libertação
pelo Amor
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