free counters free counters

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Saulo, o futuro Apóstolo dos Gentios, nasceu na cidade de Tarso, na Cilícia, segundo a história oficial, por volta do ano 10 da nossa era.


O MUNDO EM QUE NASCEU SAULO
ANTECEDENTES HISTÓRICOS E AMBIENTE GEOGRÁFICO, ESTRUTURA POLÍTICA, CONFIGURAÇÃO RELIGIOSA.

Saulo, o futuro Apóstolo dos Gentios, nasceu na cidade de Tarso, na Cilícia, segundo a história oficial, por volta do ano 10 da nossa era. Emmanuel informa, em Paulo e Estêvão1, que, no ano 35, já em Jerusalém, Paulo beirava os 30 anos de idade. Nascera, portanto, no ano 5, e não em 10. De qualquer maneira, era mais jovem que Jesus, mas não consta que o tenha conhecido pessoalmente.
Provavelmente não, porque, ante a visão deslumbrante de Damasco, não reconhece a figura que se apresenta diante dos seus olhos atônitos, e pergunta-lhe quem é?

A Cilícia era um distrito da Ásia Menor, entre a Panfília e a Síria. O limite, ao norte, era o Monte Tauro. Estava dividida em duas províncias: a Cilícia Traquéa e Cilícia Pedias, a primeira muito montanhosa e agreste, e a segunda, embora também em parte coberta de rochedos, dispunha de algumas planícies férteis. Importante estrada cortava o país de este a oeste, passando pela cidade de Tarso. Na sua áspera descida do platô da Anatólia, rumo a Tarso, a estrada esgueirava-se pela estreita passagem ciliciana, aberta na rocha. Nos tempos romanos, a Cilícia exportava grande quantidade de lã caprina, chamada cilicium, da qual se faziam tendas. Esse foi, aliás, o ofício de Saulo, de vez que era praxe entre os de sua raça, inclusive os mais ricos e ilustrados, aprender sempre um ofício manual.
Sob o domínio dos persas, a Cilícia foi provavelmente governada por reis nativos que pagavam tributo aos conquistadores.

Em viagem por aquelas regiões, Xenofonte achou uma rainha no trono. Nem Ciro nem Alexandre, o Grande, encontraram resistência, quando por lá andaram ambos nas suas campanhas bélicas. Depois de Alexandre, o país caiu em poder dos selêucidas, que, na verdade, apenas controlavam metade da nação, dado que a Cilícia Traquéa ficou entregue à pirataria e à desordem política, até que Pompeu a conquistou para Roma. A Cilícia Pedias tornou-se território romano no ano 103 a. C. antes do Cristo, mas o país somente foi regularmente ordenado em 64, sob Pompeu, convertendo-se em província romana, da qual Cícero foi governador. Reorganizada por César no ano 47 a.C., tornou-se, em 27, parte integrante da província Síria-Cilícia-Fenícia, ainda sob domínio dos romanos, naturalmente. Quase dois séculos depois, com Diocleciano, a Cilícia juntou-se à Síria e ao Egito, formando uma nova província a que deram o nome de Diocesis Orientis.
Sua vida como nação não foi, assim, muito tranquila. No século VII d.C., foi invadida pelos árabes, que a dominaram até 965, quando foi reocupada por Nicéforo II. Várias vezes se repartiu entre diferentes donos e governantes, cristãos e muçulmanos. Para encurtar a história e saltando por cima dos séculos, vamos encontra-la, de 1833 a 1840, fazendo parte dos territórios administrados por Mohammed Ali, do Cairo. Pelo tratado Sèvres, parte da Cilícia foi entregue à França, mas, em outubro de 1921, depois de conflitos com os nacionalistas, os franceses se retiraram.

Tarso é cidade bem antiga. Segundo o Obelisco Negro, na mais recuada referência conhecida, Tarso foi tomada pelos assírios cerca de 850 anos antes do Cristo. Pertence, hoje, à Turquia, que se liga, pelo ocidente, à Europa, através do Bósforo, e, pelo oriente, com o Irã e a União Soviética, tendo ao sul o Iraque e a República Árabe Unida (Síria).
Assim, com a ponta do compasso em Tarso, um círculo não muito amplo abrangeria importantes regiões da Europa, da Ásia e da África.

A cidade é cortada pelo Rio Cidno, tendo ao fundo os contrafortes do Monte Tauro. Sua importância na história antiga foi considerável, não apenas pela excelente localização geográfica como pelas suas realizações. Possuía um bom porto e território fértil. Seus pontos de sustentação econômica foram as suas duas importantes obras de engenharia: o porto e a passagem para o Norte, aberta no Monte Tauro. Mesmo assim, no entanto, até hoje Tarso é mais acessível pelo mar ou pelo oriente do que por outra qualquer via.

Ernani Cabral, no livro Apreciando a Paulo, lembra que Tarso contava com uma das três universidades que então existiam no mundo; as outras eram a de Atenas e a de Alexandria.

A cidade natal do Apóstolo sofreu inevitavelmente das vicissitudes por que passou a própria Cilícia. A influência grega sobre Tarso foi considerável. Daniel-Rops2 informa que Tarso está, hoje, a cerca de 20 quilômetros da orla marítima, por causa das aluviões, mas, no tempo de Paulo, era porto de mar, aberto ao comércio de muitos, especialmente aos gregos. A população era, pois, heterogênea. Will Durant acrescenta que a Cilícia era altamente civilizada ao longo da costa, mas ainda bárbara nos altiplanos do Monte Tauro. Tarso, a capital, era famosa por seus filósofos e por suas escolas. Os judeus da diáspora estabeleceram ali importante colônia, como também em Antioquia, Mileto, Éfeso, Esmirna. Grupamentos menores, mas ainda numerosos, habitavam Delos, Corinto, Atenas, Filipos, Petra, Tessalônica. Muitas dessas comunidades entrariam mais tarde no roteiro luminoso de Paulo.
Supõe-se que Tarso tenha sido, inicialmente, em origens que se perderam nos séculos, colônia jônica, e é certo que se considerava cidade helênica, mas a influência fenícia foi bastante acentuada. Assírios e persas governaram-na. Reis selêucidas da Síria mantiveram-na sob servidão. Por lá passou Alexandre, o Grande, no século IV a.c. A História registra um episódio interessante. Achava-se Alexandre em Tarso, no ano 333 a.C., quando foi acometido de um mal-estar para o qual seu médico, Felipe, lhe receitou uma poção. Nesse momento, Alexandre recebeu carta de seu general Parmenion, que lhe dizia que Felipe havia sido subornado por Dario para envenená-lo. Sem dar importância à denúncia, e num dos seus gestos espetaculosos, Alexandre tomou o remédio, enquanto Felipe lia a carta. Na verdade, não morreu ali, mas o seu tempo não estava longe. Foi também em Tarso que Alexandre tomou um banho e quase foi carregado pela correnteza, famosa pela velocidade de suas águas frias
Em outro livro, cuidei da carreira do grande conquistador 4, (4 Mecanismos Secretos da História, primeira parte).  Convicto da presença de Deus na história, não posso deixar de propor a hipótese de que Alexandre estivesse programado — utilizando - me da linguagem moderna — para preparar o imenso teatro de operações do futuro Cristianismo. Nos registros da história conhecida, foi o primeiro homem que concebeu o mundo como um todo, e não como um solto conglomerado de ilhotas políticas.
A semeadura mundial que fez da cultura e da civilização gregas quase o redime das suas crueldades. O mundo que Paulo encontrou para divulgação das ideias cristãs era um mundo greco-romano, em que o grego popular, conhecido pelo nome de koiné, era linguagem universal, falado desde Roma até a mais longínqua província. Essa língua, na qual foram escritos os primeiros documentos cristãos, os Evangelhos, os Atos e as Epístolas, teve sua origem exatamente no tempo de Alexandre, segundo informação da Enciclopédia Britânica, artigo “Greek Litterature”. Foi o esperanto da época. Suetônio diz que Júlio César, na dolorosa hora do apunhalamento, encontrou na língua grega a expressão da sua surpresa: Kai su teknon — Até você, meu filho?
No ano 171, ainda antes da nossa era, Tarso foi declarada cidade livre por Antíoco IV, e começou a cunhar suas próprias moedas. Sob o domínio dos romanos, a partir do ano 104 a.C., tornou-se uma das mais ricas e maiores cidades do Oriente. Por isso, diria Paulo, mais tarde, com justificável senso: “Sou judeu de Tarso, cidadão de uma cidade nada obscura da Cilícia”. (Atos, 21:39.)
Seguindo de perto a sorte da própria Cilícia, Tarso também mudou de senhores muitas vezes, até que finalmente, no século XVI, passou às mãos dos otomanos, ou seja, dos turcos. Do tempo de Paulo restam hoje extensas ruínas, profundamente soterradas. A cidade é movimentada pelo comércio em inúmeros bazares, mas o clima é desagradável devido à proximidade de vastos pantanais, situados na área onde ficava o antigo porto e por onde corria originariamente o Rio Cidno, desviado por ordem de Justiniano no século VI. A intenção era apenas regular a vazão por meio de um canal que coletasse as águas, que, na época das chuvas, desciam torrencialmente das montanhas, e livrar a cidade de perigosas enchentes. Com a passagem do tempo, no entanto, o antigo leito ficou bloqueado pelas aluviões, passando as águas a correr pelo canal. Em 1950, segundo a Enciclopédia Britânica, Tarso tinha 33.704 habitantes. Paulo não poderia mais dizer que era filho de uma cidade importante, mas ainda poderia declarar que nascera numa cidade aureolada por uma longa história. Filho de Isaac, ali nasceu Saulo, o Apóstolo dos Gentios.
Livro: As Marcas do Cristo Vol.I

Nenhum comentário:

Postar um comentário