5 – VAMPIRISMO
Teorias Proteladoras
Todo o campo da Psicoterapêutica
atual está inçado de obstáculos que impedem o avanço dos pesquisadores nas
tentativas necessárias de esclarecimento positivo de seus problemas. Jovens que
entraram esperançosos em cursos universitários, em busca de conhecimentos
positivos com que pudessem enfrentar e solucionar os problemas psíquicos
angustiantes da atualidade acabam na frustração e no desespero. Muitos deles
acabam aderindo às correntes de aventureiros e exploradores do campo minado.
Fracassam em seus próprios casos e aumentam as legiões dos desesperados,
recorrendo a expedientes escusos para se manterem num equilíbrio aparente.
Descobrem apavorados a inscrição dantesca nos portais do Inferno: “Deixai toda
esperança, ó vós que entrais”. Os veteranos do profissionalismo frustrado
acomodam-se em algumas escolas teóricas e tentam subverter a escala de valores
da Civilização da Angústia, normalizando tragicamente a anormalidade. Capitulam
estrategicamente na batalha inglória à espera de futuras descobertas salvadoras.
Entregam o pescoço à Esfinge de Édipo.
Essa situação dolorosa das
ciências do psiquismo, em meios ao esplendor do avanço geral das Ciências em
outros campos, reafirma a falsa ideia gerada no criticismo kantiano, de uma
dualidade trágica e irremediável do homem condenado: a da existência de um
mundo inacessível às Ciências. As teorias proteladoras seguem o caminho
inevitável dos processos naturais a que tudo e todos nós estamos sujeitos:
crescem, desenvolvem-se, envelhecem e morrem. Mas deixam, na vida dos
organismos conceptuais, as gerações espúrias das descendências de uma espantosa
filogênese do sistemático. Dessa maneira, a roda das frustrações continua a
girar, como os moinhos de vento de Dom Quixote nas desoladas planícies da
Mancha. Os moinhos fantasmais, que nada moem, continuam pelo menos desafiando a
teimosia delirante dos quixotes. Enquanto isso, as teorias que atravancam o
caminho das Ciências, como observou Richet, continuam a torturar as legiões de
infelizes, submetidos a choques elétricos e químicos nos hospitais e nas
clínicas do sem fim.
Nem mesmo as descobertas atuais
de uma ciência universitária, a Parapsicologia, em acentuado desenvolvimento
nos maiores centros universitários do mundo, conseguiram abalar o comodismo dos
que se apoiam nas teorias proteladoras. Protela-se a angústia, o desespero, a
tortura de milhões de criaturas, em defesa de métodos, princípios e esquemas já
rompidos no próprio campo da Física, por medo de palavras e preconceitos do
mundo científico, gerados em fase de transição já há muito superadas.
A era dos vampiros fantasiosos já
passou há muito, mas a do Vampirismo, nascida nos fins do século passado, com
as descobertas científicas de Crookes, Richet, Schrenk-Notzing, Kardec, Zöllner
e tantos outros – todos homens de Ciência, professores – catedráticos de
grandes Universidades, apenas se esboça em nossos dias. Mas a leviandade
humana, mesmo a dos homens mais sérios e dedicados ao labor científico,
sustenta ainda as prevenções do passado, sem coragem de avançar no campo minado
das superstições, como se a função primária das Ciências não fosse precisamente
a de romper com elas.
O Vampirismo atual não se nutre
de lendas assustadoras, mas de realidades positivas do campo do Psiquismo, que
exigem esclarecimentos. As Ciências do Paranormal nasceram da pesquisa
científica dos fenômenos psicofísicos. Onde há fenômenos tangíveis,
susceptíveis de repetições e, portanto de pesquisas sob controle estatístico, a
Ciência tem obrigação de penetrar com os seus instrumentos de comprovação. Os
homens de formação científica, mormente os que se dedicam às profissões
terapêuticas, não podem furtar-se a esse dever sem cair na violação da ética
profissional e da traição aos princípios humanistas. Essa dupla prevaricação
põe hoje o sinal de Caim na fronte de todos os que vivem nas teorias
atravancadoras. As multidões de suas vítimas, que se contam por gerações
inteiras, clamam contra essa perfídia no presente e fazem ecoar o seu clamor
desesperado nas distâncias do Futuro. Os psicoterapeutas atuais, na sua quase
unanimidade, passarão à História como torturadores e exploradores das gerações
sacrificadas.
Não fazemos uma acusação,
registramos um fato. A prova científica da existência da telepatia, da
clarividência, da precognição, da sobrevivência da mente após a morte corporal
(Rhine, Carington, Soal, Price, nas Universidades de Duke, Cambridge, Oxford,
Londres, Berlim, Kirov e outras) não deixa dúvidas quanto à realidade da ação
de entidades psicofísicas sobre as criaturas humanas. Rhine provou que a mente
não é física, mas de constituição extrafísica. Carington reforçou essa prova e
formulou a teoria das entidades psicônicas, formadas de psícons (átomos
mentais). Soal designou com a sigla SHI à personalidade humana sobrevivente.
Vasiliev, na URSS1 entregou-se a experiências para demonstrar que o pensamento
e a mente são materiais, mas acabou confessando a sua derrota. Louise Rhine
aplicou-se a pesquisas de campo (fora dos métodos de laboratório) e comprovou o
que o marido provara em laboratório. John Herenwald pesquisou e publicou seus
trabalhos sobre as influências telepáticas nas relações interpessoais. O
caminho foi desbastado por esses e outros cientistas atuais, que derrubaram as
estacas atravancadoras, mas os negadores continuaram a negar, à margem das
exigências científicas. Remy Chauvin, do Instituto de Altos Estudos, de Paris,
chamou os renitentes de “alérgicos ao futuro”, mas os psicoterapeutas não se
arredaram de suas teorias e seus métodos de tortura.
No entanto, o psychicboom, a
explosão psíquica no mundo prosseguiu no seu desenvolvimento. E graças ao
alheamento dos psicoterapeutas de formação universitária, que se alimentaram em
seus cursos com o leite das Ciências, surgiram por toda parte os charlatões
exploradores da credulidade pública e do desespero do século, com suas clínicas
pseudoparapsicológicas, devastando a economia dos ingênuos.
Esse panorama desolador exige de
todos nós, que não participamos desse comércio escuso e aviltante, o
esclarecimento do problema, com base nos estudos e nas pesquisas
desinteressadas de anos a fio, na comprovação diuturna da verdade através dos
fatos.
Os fenômenos paranormais revelam
a natureza extrafísica do homem, o que vale dizer a sua essência espiritual. Os
pesquisadores da Universidade de Kirov deslumbraram-se com a visão do que
chamaram de corpo-bioplásmico do homem, luminoso e cintilante. Constituído por
um plasma físico, sua matéria é rutilante. Verificaram, na observação pelas
câmaras kirlian de fotografias paranormais, que o corpo do moribundo só se
cadaverizava quando todos os elementos do corpo-bioplásmico se retiravam. Nas
pessoas vivas constataram que esse corpo de plasma dirige todas as funções do
corpo carnal e age nas manifestações paranormais através de projeções de
pseudópodes que podem movimentar objetos à distância. Verificaram ainda a
possibilidade de prevenção de doenças no corpo carnal. Tudo isso demonstra que
o chamado corpo-bioplásmico do homem não é mais do que o corpo espiritual da
tradição cristã, que o Apóstolo Paulo chamou, na I Epístola aos Coríntios, de
corpo da ressurreição. Essas descrições coincidem com o que Kardec chamou de
perispírito, envoltório do espírito que liga o corpo carnal ao espírito ou
alma.
1. URSS: Antiga União das
Repúblicas Socialistas Soviética.
A teoria kardeciana do homem
tríplice: Espírito, Perispírito e Corpo Carnal, foi confirmada pelos cientistas
materialistas de Kirov, que não a conheciam e não tinham nenhum interesse por
uma conclusão favorável à sobrevivência do homem, que, segundo o Marxismo, deve
desaparecer no túmulo para sempre.
Percebendo o risco a que se
expunham os cientistas apegam-se ao que de matéria lhes restava: o plasma
físico. Mas no próprio plasma, considerado o quarto estado da matéria, e
formado de partículas atômicas, encontraram partículas de natureza indefinida.
Com a teoria espírita, que considera o perispírito como um organismo
semimaterial, constituído de energias físicas e extrafísicas, Kardec antecipara
de mais de um século a sensacional descoberta dos cientistas de Kirov. Ressalta
de tudo isso a concepção necessária do homem como espírito. A descoberta da
antimatéria e da interpenetração dos mundos físicos e não-físicos explicou
também necessariamente, a convivência de Espíritos e homens corpóreos num mesmo
espaço, mas em diferentes dimensões da realidade.
As pesquisas sobre a
reencarnação, implantadas na Universidade de Moscou pelo Prof. Wladimir Raikov
propagaram-se nas demais universidades soviéticas. Sendo os Espíritos nada mais
que os homens desencarnados, é fácil compreender-se que as relações possíveis
entre homens e Espíritos, no campo afetivo e mental, permitem as ligações de
Espíritos viciados com homens de tendências viciosas. Esse o novo tipo de
vampirismo que surgiu das pesquisas espíritas em meados do século XIX.
Os problemas da perversão sexual,
do alcoolismo, dos tóxicos e das tendências criminosas entram assim numa nova
perspectiva, escapando ao círculo fechado da hereditariedade biológica, dos
processos endógenos para a abertura dos processos exógenos. As pesquisas de
Kardec nesse sentido foram decisivas. O tratamento desses casos tornou-se mais
seguro, confirmando-se a teoria pelos fatos de cura, particularmente dos casos
considerados incuráveis. Posteriormente, os resultados obtidos nos Centros Espíritas,
e em muitos hospitais espíritas, deram de sobejo a plena confirmação dessa
descoberta ao mesmo tempo assustadora e consoladora.
Vencidas as barreiras das
superstições populares e da dogmática igrejeira, das imposições clericais da fé
cega, da suposta infalibilidade das Escrituras Sagradas, a verdade surgia nua e
pura do fundo sombrio do poço para a claridade meridiana da certeza científica.
Não há mais dúvidas possíveis no tocante à existência de relações constantes e
naturais, de ordem telepática, entre os dois planos interpenetrados da vida
humana: o dos homens e o dos Espíritos. As teorias proteladoras – carregadas de
preconceitos e precipitações, as duras barreiras do conhecimento indicadas por
Descartes ao mundo científico – só conseguem hoje agrupar em seu favor os
cientistas hipnotizados pela obsessão materialista ou pelo fanatismo religioso.
O racionalismo frio das Ciências Materiais fundiu-se ao calor humano das
Ciências do Espírito. A metodologia mecanicista cedeu lugar a novas formas
metodológicas de pesquisa, baseadas na adequação do método ao objeto, ante a
evidência do rompimento dos conceitos tridimensionais da realidade objetiva.
Novas dimensões do real surgiram do reconhecimento da multidimensionalidade das
constituições atômicas e subatômicas da realidade intangível dos elementos e da
natureza humana em sua essência invisível. Remontando do efeito à causa, as
Ciências fragmentárias se unificaram nos fundamentos conjugados da causa única
de todos os efeitos.