Iniciando o Ataque
Os dias correram e o trabalho no Centro Espírita prosseguia em relativa
tranquilidade. Nas zonas espirituais inferiores, porém, os adversários da verdade já estavam prontos para o ataque.
Júlio César, qual doente mental, gritava palavras de ordem, seguidas destas orientações:
— Camaradas! Nossa hora chegou! Já fui informado de que os emissários da luz igualmente se organizaram, falando aos responsáveis encarnados da maldita Instituição sobre os nossos planos. Já esperávamos por isso, espíritos fracos nos denunciaram; isso não vai nos impedir!
O odioso Templo permanece impregnado de fluidos amorosos. Nós, também, somos muitos e dispomos de poderosas vibrações negativas. Nosso momento chegou!
- Gonçalves!... Gonçalves! Gritou o infeliz, procurando entre a multidão seu capataz.
- Estou aqui, senhor, respondeu o servo diabólico.
- Já fez a verificação dos principais trabalhadores?
- Sim, aqui está o levantamento, dez dirigentes serão visitados por nós.
Temos, por exemplo, os registros da responsável pelo atendimento fraterno.
Veja:
O nome dela é Márcia Boaventura. Identificamos, após dias de observação, que é uma mulher dedicada ao trabalho espírita. Nos últimos cinco anos, dizem os relatórios, nunca faltou nos dias de plantão. Promove periodicamente reuniões com seus cooperadores, está sempre disposta a ouvir sugestões, trata a todos com afabilidade e doçura, evita os comentários menos edificantes, está distante das fofocas, trabalhando com espantosa seriedade, guardando e recomendando absoluto sigilo sobre todos os casos de atendimento. Através dela não temos nenhum campo de ação, sem contar a proteção que angariou pelo trabalho tão bem realizado, quase não oferece brecha, limitando a 1% nossa influenciação sobre ela.
Entretanto, para nossa grande alegria é casada com um homem possuidor de densas vibrações, o que nos permitiu a aproximação e convivência em sua própria residência; avesso ao Espiritismo, o esposo frequenta raramente os cultos de uma seita evangélica, carregando na mente a ideia de que a Doutrina Espírita é coisa do diabo.
- Isso! Interrompeu o mandante, eis aí o nosso homem! Incentive-o a continuar na igreja, acompanhe-o, ore com ele se for preciso!
(risos)
— À igreja? Perguntou o serviçal admirado.
Sabe mesmo o que está me mandando fazer? Insistiu o capataz completamente atordoado. Explique melhor, senhor, quais são seus objetivos.
— Preste bem atenção, Gonçalves, disse o astuto Júlio César, aproximando-se do empregado, abraçando-o como se desejasse falar-lhe em secreto, guardando brilho estranho nos olhos, retirando-se, a passos lentos, para local isolado, enquanto ditava, com voz soturna, aos ouvidos do tolo servi dor das trevas este triste plano:
- Vamos atormentá-la, envolveremos de tal forma o infeliz do marido que ele fará da vida dela um inferno e, a pretexto de manter a harmonia do lar, ela terá de abandonar as tarefas e aí, adeus à afabilidade e à doçura.
- Mestre, contra-argumentou Gonçalves há, ainda, outra coisa a considerar. O marido é dado à bebida, se o incentivarmos à igreja, as orientações, ainda que fanáticas, ameaçando os adeptos com o fogo do inferno, poderá levá-lo a largar o álcool, impossibilitando-nos de utilizar mais este trunfo.
— Ora, respondeu o obsessor chefe, que trunfo melhor poderíamos ter senão o medo do inferno. Nós somos os próprios “demônios”, deixe que o infeliz pare de beber; para nós o que importa é infernizá-la, irritá-la naquilo que possui de mais sagrado. Ela não aguentará os argumentos de um marido fanático e, além do mais, poderemos fazer com que toda a economia doméstica seja, mensalmente, conduzida à igreja, “contribuindo com a obra do Senhor”, perturbando lhe ainda mais a vida financeira e a convivência familiar. Assim, ela será obrigada a procurar um emprego, a fim de suprir as necessidades básicas, afastando-se definitivamente das tarefas no Centro Espírita.
Não se esqueça, continuou o perverso coordenador, de verificar na instituição alguém cujas vibrações denotem desejo ardente em assumir um cargo, veja entre os próprios companheiros de Márcia se há brechas nesse campo, quem sabe um desejo escondido, uma pontinha de inveja etc. Incentive-os a cobiçar esta colocação, aproveite um daqueles dias em que os trabalhadores demonstram natural irritação, ocasionada pelas atividades frenéticas da vida moderna, fazendo com que alguns comecem a se aborrecer com as orientações da coordenadora.
Faça brotar, entre eles, ideias de que a responsável pelas entrevistas gosta de mandar, aparecer, dominar! Assim, quando nossa “querida irmã” abandonar o trabalho espírita, compelida pelo marido, outros estarão à disposição, ávidos pela disputa do cargo de entrevistador-mor, e os que forem reprovados certamente se afastarão melindrados. Os que ficarem não terão a mesma eficiência de nossa vítima, será o fim do atendimento fraterno bem organizado daquela Casa.
Plano perfeito!
Vamos, ordenou o mandante perverso, não quero mais perder tempo! É preciso valorizarmos as horas, o atendimento fraterno precisa ser desestruturado a qualquer preço!
- Mas, senhor, disse o secretário das sombras, não deveríamos visitar primeiramente, como estava programado, o presidente da Casa juntamente com o diretor doutrinário? Não deveriam ser as primeiras vítimas de nossa perseguição?
— Já estão sendo, respondeu o organizador astuto, à medida que os departamentos forem atingidos por nossa influenciação, quando o funcionamento das tarefas começarem a se comprometer, haverão de se preocupar e muito provavelmente se irritarão pouco a pouco, abrindo-nos o canal de influenciação.
Preciso fazer com que a organização esteja acima da fraternidade, aí, ficará mais fácil nossa infiltração. Brechas serão abertas por todos os lados, e nossas ideias serão captadas com mais facilidade.
Organizaremos o restante dos perseguidores para visitarem os outros dirigentes. Quero cuidar do caso Márcia Boaventura com especial atenção.
Os obsessores deixaram a cidade das trevas em direção à residência do casal Boaventura.
Márcia, tarefeira no campo das entrevistas, permanecia junto às atividades domésticas. O marido, criatura azeda e difícil, desenvolvia ondas de impaciência e indignação pelo trabalho da esposa no Centro Espírita, argumentando:
— Mulher, você tem que parar com essas coisas de Espiritismo, é preciso pensarmos um pouco mais em nossa vida financeira. Quanto você recebe do seu Centro pelas horas que empenha a serviço do Espiritismo?
— Recebo a consciência tranquila de ter realizado algo de bom em benefício dos semelhantes.
— Basta! Disse o marido visivelmente irritado.
Diga, quem é que põe comida nesta casa? Quem é que paga as despesas domésticas, e além do mais, quem financia o transporte coletivo que lhe conduz ao Centro?
— E você, meu bem, respondeu a esposa, procurando tolerá-lo. E contra argumentou:
Mas, veja, tenho cumprido com os meus afazeres, a casa permanece em ordem, nada lhe falta, faço todas as suas vontades. Do que é que você se queixa?
Só porque me dedico, algumas horas por semana, aos trabalhos voluntários promovendo o bem?
O homem rude, de vibrações densas, vencido por palavras calmas, lúcidas e apoiadas na autoridade moral, calou-se pensativo. Foi nesse ínterim que os adversários da verdade o envolveram com estes pensamentos:
— À igreja, vá para a igreja, mostre a ela que você é mais caridoso. Se ela vai ao Centro, você também pode ir aos cultos evangélicos. Deus precisa de você!
E sendo envolvido por pensamentos exteriores e porque desejasse sair de casa, desenvolveu as ideias que lhe chegavam vagarosas.
Horas mais tarde, Boaventura, ladeado por Júlio César e Gonçalves, os intérpretes das trevas, adentrava luxuoso templo”, desejando ouvir argumentos para libertar a esposa do Espiritismo.
A “igreja” mantinha espaço amplo e moderno, cente nas de lugares à disposição da massa de necessitados. Fisicamente inspirava respeito, espiritualmente, porém, era o refúgio de entidades maléficas, interesseiras, sensuais e exploradoras. Uma multidão de espíritos desequilibrados aguardava a turba de encarnados. Músicas envolventes eram compostas, nessa psicosfera espiritual, a fim de serem inspiradas aos compositores encarnados daquele agrupamento, com o objetivo de hipnotizar e envolver as mentes menos preparadas.
O “templo” erguido em homenagem a Mamom, era administrado espiritualmente por Daniel, entidade que em sua última encarnação fundou inúmeras seitas fanáticas que exaltavam o dinheiro.
Sentado em cadeira especial, representando um trono celeste ao centro do palco, o coordenador inferior, controlava todo o movimento das entidades malvadas.
Daniel, notando a chegada de Júlio César, de sobressalto dirigiu-se ao seu encontro e, em posição de subserviência, declinou esta reverência:
—Salve, ó grande Júlio César!
—Você me conhece? Perguntou o grande perseguidor admirado.
- Quem já não ouviu falar de figura tão ilustre? Claro, que o conheço.
Sei que o senhor é um dos obsessores imediatos da falange da qual faço parte.
Sei, também, que administra respeitável cidade dedicada às obsessões. Tenho comigo as informações básicas do seu currículo, entre elas conheço a sua especialização em destruir centros espíritas!
Eu o admiro sinceramente! Não é fácil perseguir aqueles que têm conhecimento de como as coisas espirituais funcionam. Aqui, por exemplo, vez por outra os espíritos da luz se apresentam arrebatando muitos dos nossos, mas os encarnados, trabalhadores deste núcleo, não dispõem do intercâmbio mediúnico ostensivo, da fé raciocinada, da caridade pura, o que facilita muito o meu trabalho. Mas, quanto ao senhor trabalhando tão de perto e tão corajosamente junto aos tarefeiros dos centros espíritas! Ah! Isso não é para qualquer um!
Seja bem-vindo em minha casa, quero que saiba: sou Daniel, desde agora seu servo.
O mandante das trevas quase explodiu de tanta satisfação! Recompondo-se dos elogios do colega, falou-lhe desta forma:
— Estou agradecido, Daniel, pela sua hospitalidade, isso facilitará muito o meu trabalho. Será recompensado por isso, falarei aos meus superiores da sua boa vontade em ajudar, da sua colaboração e certamente será promovido.
- Não, senhor, replicou a entidade alucinada, não desejo promoção, sei o quanto as vagas na sua equipe são concorridas. Uma oportunidade ao seu lado, para mim já estará excelente, desejo mesmo aprimorar minhas condições de influenciação negativa.
— Ótimo, disse Júlio César, ficará conosco sob as ordens de meu secretário.
Sua presença nos será útil.
Já que demonstra tamanha atenção para conosco, quero lhe falar dos nossos planos: preciso de sua ajuda para influenciar alguém em especial. Está vendo aquele senhor na terceira fila à direita?
— Sim, respondeu Daniel.
— Precisamos fazer com que fique completamente fascinado pelas idéias que você divulga aqui. A esposa dele, por realizar um trabalho que nos incomoda, é quem desejamos atingir. Ela é uma rocha moral, espiritualizada e dedicada ao próximo. Não temos condições de atingi-la por vibrar em outras faixas, sintonizando constantemente com os mensageiros da luz. Por isso, estamos sendo obrigados a desenvolver verdadeira manobra, ocupando-nos um tempo precioso, mas valerá a pena!
Gostaria apenas que nos concedesse a palavra, que nos permitisse envolvermos o “pastor”, no momento do culto, para que nossas colocações possam atingir Boaventura em cheio.
— Ah! quanto a isso o senhor não terá problema. Clodoaldo, nosso valoroso “pregador” encarnado, atende às nossas ondas mentais com muita facilidade; é também ligado aos nossos interesses.
Muito bem, concluiu Daniel, está autorizado! Entretanto, precisamos nos apressar, o “culto” vai começar em instantes.
Aquela seita edificara um rico templo em homenagem a Mamom. Fluidos de interesses materiais estavam impregnados por toda a parte, evidenciando a exploração humana. Entre os coordenadores encarnados, a sinceridade era inexistente, o desejo de servir despretensiosamente ali não existia, pessoas interesseiras foram atraídas pelo comércio da fé. A cobiça e a ambição dominavam os sentimentos dos representantes do “templo”, onde a palavra de Jesus deveria ser vivida, mas assim não acontecia. Entidades terrivelmente inferiores ensaiavam discursos para o “culto”. Pouco a pouco, a igreja era ocupada por pessoas com as mais variadas dificuldades. Muitas revestidas de fé verdadeira, de méritos espirituais, de honestidade e amor, também se apresentavam engrossando as fileiras do luxuoso “santuário”.
Próximo do início das atividades, marchas musicais foram tocadas, preparando o psiquismo dos presentes.
Terminado o show de músicas lúgubres, figura esquisita adentrou no ambiente físico, era Clodoaldo, o “pastor” chefe.
De posse do livro sagrado dos cristãos, a criatura austera, de intenções sombrias, contemplou demoradamente a extensa plateia de necessitados, preparando-se para falar, quando foi envolvido pelos dois intérpretes das trevas, que lhe inspiraram este discurso:
Meus irmãos, os sofrimentos no mundo representam o castigo divino. Se você sofre é porque está em débito com Deus e precisa saldar esta dívida. Nós, os pastores de Deus, recebemos um dom do eterno Pai, o de aliviar e até acabar com os sofrimentos; somos os mensageiros do Senhor!
Entretanto, nada na vida é de graça, Deus espera que você faça a sua parte, dê a sua cota de sacrifício para se libertar dos problemas espirituais que lhe atormentam, e é sobre o sacrifício que vamos falar. É preciso ter coragem para agradar a Deus, ter fé para conquistar a simpatia de Deus, ser ousado nas rogativas dirigidas a Deus. Se você quer se ver livre dos problemas, doe sua parcela de sacrifício para a edificação do reino de Deus na Terra. E a igreja é a casa de Deus, que precisa da sua contribuição para consolar a multidão de desafortunados, filhos do Senhor.
Estranha força partia do “pregador”, poderosas vibrações magnéticas prendiam a atenção do público.
Júlio César estava transfigurado, ligara-se com planos mais inferiores, mentalizara a figura mítica de satanás assumindo perispiritualmente a forma mitológica, impressionando os adversários do bem.
Daniel, contudo, dizia:
-Lindo! Que capacidade! Este é meu mestre, meu mentor. Que as trevas lhe acompanhem Júlio César! Gritava o novo discípulo, sustentando o camarada com pensamentos menos edificantes.
— E todo aquele, continuou o representante da maldade, que contribuir com Deus terá sempre o dobro. Portanto, quem mais doar, mais receberá.
Neste momento, gritos de aleluia foram pronunciados pelos profissionais da fé, incentivando o povo a concordar com os absurdos proferidos pelo “pastor”, que exaltava a insensatez.
Boaventura estava impressionado, os olhos brilhavam à maneira daqueles que estão ébrios de ambição; sentia-se atraído pelo pastor, notava ares de simpatia para com aquele homem. Clodoaldo, influenciado por Júlio César, ligou-se a Boaventura, olhando-o incessantemente, como se estivessem imantados por estranho magnetismo.
O esposo de Márcia não buscava algo espiritual verdadeiro, mas benefícios puramente materiais, como muitos dos presentes. Pensava na reforma da casa, em aumentar a renda doméstica e, quem sabe, enriquecer com ajuda divina. Isso facilitava muito a atuação dos perseguidores.
Neste ponto, os adversários espirituais começaram a gritar instigando a massa:
Doem! Doem! Doem! Doem tudo! Tudo para o Senhor! Deus é o nosso salvador!
(risos)
Estas palavras eram repetidas pelos trabalhadores encarnados. Via-se, nitidamente, mãos encarquilhadas ofertarem os últimos recursos, homens fortes ofertando o salário do mês, mães desesperadas doando os últimos centavos, engordando os cofres do “santuário” erguido a Mamom. O cenário era triste, vários espíritos bons, penalizados, aguardavam a hora oportuna para ajudar.
Terminado o momento do ofertório, o “pastor” fez uma rogativa. As palavras pediam a Deus pelos necessitados, mas o coração contava as moedas! Entretanto, centenas de pessoas oravam com fervor, inúmeras possuíam méritos e, nesta hora, os benfeitores espirituais, que estão em toda parte, ali se apresentaram, atraídos pelos pensamentos das pessoas nobres de sentimentos, colhendo os pedidos sinceros que, muitas vezes, numa explosão de fanatismo, eram feitos aos gritos; e, naquela algazarra, os verdadeiros espíritos do Senhor, que não eram vistos ou percebidos pelos adversários do bem, trabalhavam silenciosamente, anonimamente, promovendo passes magnéticos nos enfermos, recolhendo obsessores, espíritos recém-desencarnados, almas sofredoras e infelizes, num extraordinário trabalho de benemerência. Terminada a prece , muitos sentiam-se aliviados, atribuindo a melhora ou a cura aos poderes místicos do “pastor”.
Eram literalmente os falsos profetas, anunciados por Jesus. No processo de seleção em que a Terra se encontra, é natural que Deus nos permita agirmos com liberdade, pois que estamos sendo classificados através dos próprios atos.
Entretanto, nada foge à lei de causa e efeito. Essas expressões dolorosas terão de ser consertadas pelos próprios enganadores. Mesmo em núcleos dedicados à exploração humana, Deus direciona luzes, enviando os bons espíritos para socorrer quantos clamarem sinceramente por misericórdia.
Júlio César, ladeando o porta-voz de Mamom, fortalecia-o no discurso mentiroso:
— Eu lhe solicito, Senhor, que aqueles que contribuíram com a sua obra sejam especialmente abençoados e que os males espirituais sejam retirados, os demônios afastados. E, nesse instante, “atores” contratados caíram ao solo, simulando manifestações demoníacas, sugestionando as mentes fracas, perturbadas pelos adversários do bem, a repetirem os atos tresloucados. No plano espiritual as entidades debochavam, riam, divertiam-se da crendice popular, ao mesmo tempo em que muitos frequentadores encarnados ficavam temerosos, aguardando a expulsão dos demônios pelo “pastor” que, pronunciando as palavras combinadas, afastou os espíritos impuros dos “atores”, enquanto os ajudantes despertavam as mentes impressionadas, restabelecendo a “ordem” no ambiente físico. Concluída a encenação, ainda fortemente envolvido pelos coordenadores das trevas, o “pregador” continuou:
— Vocês viram o poder do demônio? Mas o nosso poder é maior! Aleluia!
Aleluia!
Todos aqueles que não têm fé, caem nas garras de satanás. Ele age de várias formas, tendo sua morada nos centros espíritas.
Neste momento, Júlio César retirou-se ligeiramente do campo de ação do expositor da mentira, aconchegando-se a Boaventura, influenciando-o, para que as informações o convencessem.
— O Espiritismo, continuou o orador das trevas, é a doutrina do demônio, os espíritas são adoradores da maldade, aqueles que abraçam esta doutrina têm a vida atrasada, os homens que são casados com mulheres que trabalham neste movimento podem ser contaminados, o contrário também é verdadeiro; a residência fica marcada e o diabo poderá arrebatá-los do dia para a noite. Se alguém aqui possuir parentes frequentando ou trabalhando nestas casas, deixem os nomes para a reunião de libertação, onde afastaremos o demônio amarrando-o definitivamente, confinando-o no inferno, donde nunca deveria ter saído, livrando os lares desta indesejável companhia. Sejam fortes, não deem trégua aos espíritas, convençam os parentes, tragam-nos ao nosso templo. Todo aquele que consegue converter um irmão à nossa fé, cresce aos olhos de Deus.
Não tolerem as conversas espíritas, satanás é quem orienta essas casas!
Boaventura parecia estar em transe, e uma onda de ódio, iniciada por Júlio César, invadiu lhe a alma, fazendo-o refletir erroneamente, desta forma:
— Por isso, então, permaneço na pobreza, esse é o motivo de não conquistar nada materialmente. Márcia vai me pagar!
O mandante das trevas lançou o olhar para o “pregador”, ajudando-o a terminar a ridícula exposição, fazendo-o pronunciar estas palavras:
— O espírito de Deus está me dizendo que aqui há várias pessoas com este problema, aqueles que possuem amigos ou parentes envolvidos com o espiritismo, por favor, levantem a mão.
Dezenas de pessoas se apresentaram, o “pastor”, então, se colocou à disposição para, ao final do “culto”, conversar individualmente com aqueles que quisessem libertar os seus parentes do demônio, recuperando a paz familiar.