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sábado, 16 de julho de 2011

A História de Sundar Singh

O Apóstolo dos pés sangrentos

Sundar Singh foi um hindu convertido ao cristianismo tendo exercido a sua atividade apostólica não somente entre as populações não cristãs da Índia, mas por toda a terra. Pareceu-me interessante resumir a vida e o ensino deste apóstolo cristão. Sundar Singh nasceu em 3 de Setembro de 1889, em Rampur, no Estado de Patiala, ao Norte da Índia. De origem Sikh, foi o último filho de Sirdar Sher Singh, homem rico e respeitado, que o criou no luxo e deu-lhe uma sólida instrução. A sua mãe, que morreu quando tinha catorze anos e para quem rendia um verdadeiro culto, indicou os livros sagrados hindus, nomeadamente o Bhagavad-Gita e o Adi-Adi-Granth.
Aos dezesseis anos, conhecia os Upanishads e o Corão. Entrou em contacto com o Evangelho através de missionários presbiterianos americanos na escola para onde foi enviado. O ensino que recebeu lá o perturbava e o deixava profundamente hostil; rasgou e queimou uma Bíblia que lhe tinha sido oferecida. Mas a angústia persistia. Uma noite de Dezembro de 1904 resolveu pôr um termo às suas lutas internas e encontrar a paz imediatamente ou a morte. Pôs-se a orar em seu quarto, decidido, se não encontrasse o descanso procurado, colocaria a sua cabeça sobre o carril do trem, onde o expresso de Ludhiana passava às cinco horas da manhã. Às quatro e meia vê uma grande luz e nesta luz a forma de Cristo e escutou uma voz que lhe dizia: “Até quando perseguir-me-á? morri para você, sou o Salvador do mundo”. Então compreendeu que Cristo é vivo, pensamento que lhe parecia até então inadmissível, e a paz entrou nele.
A sua família não aceitou que quisesse abandonar a religião dos antepassados para abraçar a de Jesus. Para o seu pai, representava a vergonha que recairia sobre todos se persistisse naquela idéia; um tio prometeu-lhe todas as riquezas – que eram de valor considerável – se residisse com eles. Nada conseguiu mudá-lo. Então seu pai o deserdou e o declarou “fora de casta”, o que, para um Hindu, era a degradação suprema. A escola cristã foi perseguida e teve que deixar o país, ficando apenas Sundar com um camarada Sikh, que também tinha abraçado a fé em Cristo.
Em sinal de ruptura definitiva com a sua raça, cortou sua cabeleira, prática que o Granth proíbe aos Sikhs. Sundar refugiou-se em Ropur com os cristãos que trataram dele. Seu pai fez uma suprema tentativa para retomá-lo; falou-lhe com ternura, evocou a lembrança da sua mãe; mas o jovem homem permaneceu inabalável na sua decisão de servir a Cristo enquanto vivesse. No dia do aniversário dos seus dezesseis anos, em 3 de Setembro de 1905, foi batizado em Simla, no Himalaia. Trinta e três dias após, resolveu viver como santo. Sâdhou leva pigmento cor açafrão, fato consagrado por séculos, e segue, sem lar e sem dinheiro, uma vida de austeridades e privações.
A sua experiência de vida, abre-lhe a porta de todas as castas e de todas as classes, onde pôde repetidamente falar de Cristo às grandes senhoras do país. Sobre a terra congelada do Tibete como também sobre o solo tórrido do Ceilão anda descalço e conserva o mesmo vestuário e os mesmos hábitos de pobreza; Leva com ele apenas o seu Novo Testamento em língua urdu. Começou a pregar o Evangelho na sua aldeia natal, seguidamente nas outras cidades da província do Penjab; foi para o Afeganistão, o Béloutchistan e a Caxemira. Mas não estava preparado para esta existência itinerante e sofreu muito com o frio e as privações, sem falar das dolorosas mortificações. Passou por terríveis lutas internas, principalmente a tentação de voltar à casa paterna e viver como um homem de seu nível; mas nunca se deixou desviar do seu apostolado. Em 1906 encontrou um Americano, o Sr. Stokes que, durante um ano, juntou-se a ele e indicou-lhe François de Base, por quem tinha grande veneração, cedo compartilhado pelo Sâdhou. Continuando a ser só, Sundar fez, em 1908, a primeira viagem ao Tibete. Para se aperfeiçoar, fez dois anos de estudos no colégio Saint-Jean em Lahore (1909-1910). Recusou sempre os títulos que lhe atribuíam; quis ser apenas uma testemunha de Cristo. Retornou ao bispo anglicano a licença de pregar que este o tinha concedido, explicando que queria anunciar o Evangelho onde Deus o enviasse. Em 1912 percorreu Bengala. Resolveu então jejuar durante quarenta dias e quarenta noites; retirou-se na selva e passou este tempo a conversar com Cristo. À medida que as suas forças físicas declinavam, o seu espírito encontrava-se vivificado e a sua dependência, no que diz respeito a Deus. Guardas florestais encontraram-no completamente esgotado e transportaram-no à Dehra Dun, seguidamente à Annfield onde foi cuidado. Em 1913 e 1914 percorreu o Sikkim, o Bhutan e o Nepal. Seguiu Sundar pregando no Sul da Índia, no Ceilão, na Birmânia, na China e no Japão. Em 1918 visitou a América e a Europa. Em Outubro de 1919 voltou a Rampur; havia catorze anos que não via seu pai; este se converte e Sundar o batizou. Em 1920, Sundar Singh foi à Inglaterra, onde o diretor do Colégio missionário de Selly Oak disse sobre ele: “Não é tão somente acima das nacionalidades, mas também acima das igrejas”. Em Março parou em Paris, seguidamente visitou a Irlanda e a Escócia. Em Londres falou a cerca de 10.000 pessoas; seguiu para os Estados Unidos, Austrália, Palestina onde freqüentemente tivesse desejado retornar. Em 1922 percorreu a Suíça, a Alemanha, e a Suécia.
Um jovem hindu deserdado e sem casta, maldito  no  lar  de  seus  pais  e  na  aldeia  em  que nascera, caminhava pela estrada que de Simla se dirige a Sabatu,  com  a  alma inundada de alegria. Paradoxal alegria, a qual já se mesclava preocupação gravíssima: o  batismo,  se lhe resolvera os problemas espirituais, selando sua consagração a Cristo, não lhe dava,  contudo orientação sobre o rumo a imprimir a vida. Não lhe seria possível continuar vivendo  da boa vontade dos missionários. Que faria?
Todas as suas forças e tendências se dirigiam para um rumo: a pregação do Evangelho. Precisava remir o tempo perdido, desfazer os males que causara aos pregadores de Rampur. Mas pregar como? Passar encerrado no Seminário, receber lições de Teologia, de Grego, de Latim, assimilar por processo exaustivo e mecânico a piedade de outros homens; pastorear depois uma igreja, viver preso a paróquia e a  seus  pequeninos   problemas  gerados  pela eterna mesquinharia do homem; esgotar-se  nas  intermináveis  e  nem  sempre edificantes discussções e atitudes de Conccílios, para depois, e uma vez mais, afundar no lago parado
da rotina paroquial? Fazer cuidadosas distinções dogmáticas,  demonstrar  onde  estava o erro dos presbiterianos, onde o dos metodistas e afirmar vitoriosa e invariavelmente que o Caminho, a Verdade e a Vida residiam no seio da Igreja de Inglaterra, que o batizara? E a qual dentre as correntes que nela se digladiavam haveria ele de se filiar?
Engolfado em tais pensamentos, a sombra fresca de pinheirais de Sabatu, seus olhos caçam muitas vezes nas neves que faziam fundo a paisagem. Himalaia! As águas que ali nasciam, na neve permanente, rasgavam na pedra da montanha o leito por onde correriam. Dispensavam concurso humano. Conseguisse ele manter sempre a íntima união com Cristo que agora possuía e poderia dispensar a organização eclesiástica e os canais com que ela orientava o rumo da piedade dos fiéis. Mesmo porque a europeização da índia era ingrata tarefa que a igreja evangélica indiana parecia apostada em levar a cabo  e isto lhe repugnava.
Fortes laços emocionais o prendiam a terra onde repousava sua mãe, e aos costumes da infância. Não se convertera a civilização ocidental, mas ao Cristo Universal.
(...)
Dá-se o mesmo com a água Viva. Os hindus precisam dela, mas dispensam a xícara européia.
Mas como criar uma vasilha hindu para a nova bebida? Não! Era a bebida eterna! As formas de devoção da índia a buscavam, tacteantes e desesperadas. Bastava tomar a melhor dessas formas de devoção e enche-la do líquido cristalino e refrigerante.
Trinta e três dias após o batismo, vendeu como pode os escassos objetos que possuía, comprou na aldeia a roupa amarela de sadu, envergou-a e, descalço, levando em uma das mãos o Novo Testamento em urdu, tomou o rumo do sul.
Seria desse dia em diante, O Sadu.
Sadu, palavra sânscrita que significa reto, adotada para designar uma classe especial de religiosos veio a ter sentido de puro, santo. A  quem se consagra inteiramente a religião, abandonando para sempre qualquer veleidade mundana. (...)
Vestidos com a roupa cor de açafrão que tão facilmente se distingue, caminham geralmente descalços, sem pouso fixo. Nas aldeias e nas cidades todos têm prazer em dar-lhes uma escudela de comida, um leito de palhas, uma hora de palestra. Seus conselhos são respeitados, suas maldições temidas. O viajante que percorrer as margens dos rios sagrados, frequentemente encontrara esses santos imersos em meditação ou ocupados em flagelar-se pelos mais engenhosos processos, ou rezando com monotonia.
Tão intimamente relacionada com o paganismo hindu estava a vida do sadu, que era necessário mais que simples originalidade para adotá-la e pregar o cristianismo. A Igreja receberia tal idéia com escândalo e desagrado; e os mesmos hindus que o acolhessem, ao verificarem que o Santo-Homem era apenas um maldito cristão de casca amarela, possivelmente se vingariam ferozmente do logro.
Mas Sundar Singh não estava à procura de um artifício: queria ser sadu e não apenas vestir-se de sadu. Possuiria a mentalidade do sadu, com alma de cristão.


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