Allan Kardec
Allan
Kardec, codificador e sistematizador da Doutrina Espírita
Nome completo Hippolyte Léon Denizard Rivail. Conhecido(a) por codificar e sistematizar a Doutrina
Espírita
Nascimento
3 de outubro de 1804 Lyon, Ródano-Alpes França
Morte
31 de março de 1869 (64 anos) Paris, Ile-de-France França
Ocupação: Pedagogo, professor
Assinatura Hippolyte Léon Denizard Rivail
(Lyon, 3 de outubro de 1804 — Paris, 31 de março de 1869) foi educador,
escritor e tradutor francês. Sob o pseudônimo de Allan Kardec,[1]
notabilizou-se como o codificador[nb 1] do espiritismo (neologismo por ele
criado), também denominado de Doutrina Espírita.
O pseudônimo "Allan Kardec", segundo
biografias, foi adotado pelo Prof. Rivail a fim de diferenciar a Codificação
Espírita dos seus trabalhos pedagógicos anteriores. Segundo algumas fontes, o
pseudônimo foi escolhido pois um espírito revelou-lhe que haviam vivido juntos
entre os druídas, na Gália, e que então o Codificador se chamava "Allan
Kardec".[2]
No 4º Congresso Mundial em Paris (2004), o
médium brasileiro Divaldo Pereira Franco psicografou uma mensagem atribuída ao
espírito de León Denis em francês (invertida) declarando que Allan Kardec fora
a reencarnação de Jan Hus, um reformador religioso do século XV. Esta
informação já foi dada em diversas fontes diferentes, [3][4][5][6] o que está
de acordo com o Controle Universal do Ensino dos Espíritos, que Kardec definiu
da seguinte forma: "uma só garantia séria existe para o ensino dos
Espíritos - a concordância que haja entre as revelações que eles façam
espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos
outros e em vários lugares."
Allan
Kardec e sua esposa Amélie Gabrielle Boudet.
Nascido
numa antiga família de orientação católica com tradição na magistratura e na
advocacia, desde cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da
filosofia.
Fez
os seus estudos na Escola de Pestalozzi, no Castelo de Zahringenem, em
Yverdon-les-Bains, na Suíça (país protestante), tornando-se um dos seus mais
distintos discípulos e ativo propagador de seu método, que tão grande
influência teve na reforma do ensino na França e na Alemanha. Aos quatorze anos
de idade já ensinava aos seus colegas menos adiantados, criando cursos
gratuitos para os mesmos. Aos dezoito, bacharelou-se em Ciências e Letras.
Concluídos os seus estudos, o jovem Rivail
retornou ao seu país natal. Profundo conhecedor da língua alemã, traduzia para
este idioma diferentes obras de educação e de moral, com destaque para as obras
de François Fénelon, pelas quais manifestava particular atração. Conhecia a
fundo os idiomas francês, alemão, inglês e holandês, além de dominar
perfeitamente os idiomas italiano e espanhol.
Era membro de diversas sociedades, entre as
quais da Academia Real de Arras, que, em concurso promovido em 1831,
premiou-lhe uma memória com o tema "Qual o sistema de estudos mais de
harmonia com as necessidades da época?".[8]
A 6 de fevereiro de 1832 desposou Amélie
Gabrielle Boudet. Em 1824, retornou a Paris e publicou um plano para
aperfeiçoamento do ensino público. Após o ano de 1834, passou a lecionar,
publicando diversas obras sobre educação, e tornou-se membro da Real Academia
de Ciências Naturais.[9]
Como pedagogo, o jovem Rivail dedicou-se à
luta para uma maior democratização do ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve
em sua residência, à rua de Sévres, cursos gratuitos de Química, Física,
Anatomia[10] comparada, Astronomia e outros. Nesse período, preocupado com a
didática, criou um engenhoso método de ensinar a contar e um quadro mnemônico
da História de França, visando facilitar ao estudante memorizar as datas dos
acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país.
As matérias que lecionou como pedagogo são:
Química, Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia, Retórica, Anatomia
Comparada e Francês.[11]
Conforme o seu próprio depoimento, publicado
em Obras Póstumas, foi em 1854 que o Prof. Rivail ouviu falar pela primeira vez
do fenômeno das "mesas girantes", bastante difundido à época, através
do seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data. Sem dar muita atenção ao
relato naquele momento, atribuindo-o somente ao chamado magnetismo animal de
que era estudioso, só em maio de 1855 sua curiosidade se voltou efetivamente
para as mesas, quando começou a frequentar reuniões em que tais fenômenos se
produziam.
Durante este período, também tomou
conhecimento do fenômeno da escrita mediúnica - ou psicografia, e assim passou
a se comunicar com os espíritos. Um desses espíritos, conhecido como um
"espírito familiar", passa a orientar os seus trabalhos. Mais tarde,
este espírito iria lhe informar que já o conhecia no tempo das Gálias, com o
nome de Allan Kardec. Assim, Rivail passa a adotar este pseudônimo, sob o qual
publicou as obras que sintetizam as leis da Doutrina Espírita.[9]
Convencendo-se de que o movimento e as
respostas complexas das mesas deviam-se à intervenção de espíritos, Kardec
dedicou-se à estruturação de uma proposta de compreensão da realidade baseada
na necessidade de integração entre os conhecimentos científico, filosófico e
moral, com o objetivo de lançar sobre o real um olhar que não negligenciasse
nem o imperativo da investigação empírica na construção do conhecimento, nem a
dimensão espiritual e interior do Homem.
Tendo iniciado a publicação das obras da
Codificação em 18 de abril de 1857, quando veio à luz O Livro dos Espíritos,
considerado como o marco de fundação do Espiritismo, após o lançamento da
Revista Espírita (1 de janeiro de 1858), fundou, nesse mesmo ano, a primeira
sociedade espírita regularmente constituída, com o nome de Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas.
Túmulo
de Allan Kardec em Paris.
Kardec
passou os anos finais da sua vida dedicado à divulgação do Espiritismo entre os
diversos simpatizantes, e defendê-lo dos opositores através da Revista Espírita
Ou Jornal de Estudos Psicológicos. Faleceu em Paris, a 31 de março de 1869, aos
64 anos de idade,[12] em decorrência da ruptura de um aneurisma, quando
trabalhava numa obra sobre as relações entre o Magnetismo e o Espiritismo, ao
mesmo tempo em que se preparava para uma mudança de local de trabalho. Está
sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, uma célebre necrópole da capital
francesa. Junto ao túmulo, erguido como os dólmens druídicos, Acima de sua
tumba, seu lema: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar,
tal é a lei", em francês.
Em seu sepultamento, seu amigo, o astrônomo
francês Camille Flammarion proferiu o seguinte discurso, ressaltando a sua
admiração por aquele que ali baixava ao túmulo:[13]
Voltaste
a esse mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos
nossos pés dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se-te
os olhos para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra… Sabemos
que todos havemos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma
inércia, a esse mesmo pó. Mas, não é nesse envoltório que pomos a nossa glória
e a nossa esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço.
Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas
mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo
desenvolvimento a Terra é teatro por demais acanhado. (…) Até à vista, meu caro
Allan Kardec, até à vista!
Camille Flammarion
Sobre
Kardec, Gabriel Delanne escreveu:[14]
Substituindo a fé cega numa vida futura, pela
inquebrantável certeza, resultante de constatações científicas, tal é o
inestimável serviço prestado por Allan Kardec à humanidade.
Gabriel Delanne
Contracapa
da versão de 1860 d'O Livro dos Espíritos, a principal obra publicada por
Kardec.
O
professor Rivail escreveu diversos livros pedagógicos, dentre os quais
destacam-se:[15]
1824
- Curso prático e teórico de Aritmética, segundo o método de Pestalozzi, para
uso dos professores e mães de família, com modificações - 2 tomos
1828
- Plano proposto para melhoramento da Instrução Pública
1831
- Gramática Francesa Clássica
1831
- Qual o sistema de estudo mais consentâneo com as necessidades da época?.
1846
- Manual dos exames para os títulos de capacidade: soluções racionais de
questões e problemas de Aritmética e de Geometria
1848
- Catecismo gramatical da Língua Francesa
1849
- Programa dos Cursos ordinários de Química, Física, Astronomia, Fisiologia
1849
- Ditados normais dos exames da Municipalidade e da Sorbona
1849
- Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas
Lista
dos principais diplomas obtidos por Denizard Rivail durante a sua carreira de
professor e diretor de colégio:[11]
Diploma
de fundador da Sociedade de Previdência dos Diretores de Colégios e Internatos
de Paris - 1829
Diploma
da Sociedade para a Instrução Elementar - 1847. Secretário geral: H. Carnot.
Diploma
do Instituto de Línguas, fundado em 1837. Presidente: Conde Le Peletier-Jaunay.
Diploma
da Sociedade de Educação Nacional, constituída pelos diretores de Colégios e de
Internatos da França - 1835. Presidente: Geoffroy de Saint-Hilaire.
Diploma
da Sociedade Gramatical, fundada em Paris em 1807, por Urbain Domergue - 1829.
Diploma
da Sociedade de Emulação e de Agricultura do Departamento do Ain - 1828 (Rivail
fora designado para expor e apresentar em França o método de Pestalozzi).
Diploma
do Instituto Histórico, fundado em 24 de Dezembro de 1833 e organizado a 6 de
Abril de 1834. Presidente: Michaud, membro da academia francesa.
Diploma
da Sociedade Francesa de Estatística Universal, fundada em Paris, em 22 de
Novembro de 1820, por César Moreau.
Diploma
da Sociedade de Incentivo à Indústria Nacional, fundada por Jomard, membro do
Instituto.
Medalha
de ouro, 1º prêmio, conferida pela Sociedade Real de Arrás, no concurso
realizado em 1831, sobre educação e ensino.
As cinco obras fundamentais que versam
sobre o Espiritismo, sob o pseudônimo Allan Kardec, são:
O
Livro dos Espíritos, Princípios da Doutrina Espírita, publicado em 18 de abril
de 1857;
O
Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, em janeiro de 1861;
O
Evangelho segundo o Espiritismo, em abril de 1864;
O
Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, em agosto de 1865;
A
Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, em janeiro de 1868.
Além delas, como Kardec, publicou mais
cinco obras complementares:
Revista
Espírita (periódico de estudos psicológicos), publicada mensalmente de 1 de
janeiro de 1858 a 1869;
O
que é o Espiritismo? (resumo sob a forma de perguntas e respostas), em 1859;
Instrução
prática sobre as manifestações espíritas (substituída pelo Livro dos Médiuns;
publicada no Brasil pela editora O Pensamento)
O
Espiritismo em sua expressão mais simples, em 1862;
Viagem
Espírita de 1862 (publicada no Brasil pela editora O Clarim).
Após
o seu falecimento, viria à luz:
Obras
Póstumas, em 1890.
Outras
obras menos conhecidas foram também publicadas no Brasil:
O
Principiante Espírita (pela editora O Pensamento)
A
Obsessão (pela editora O Clarim)
"A
Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida
futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois
da morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o
véu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não
foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são
os próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação."[16]
Allan
Kardec. "Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da
mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos
novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os
observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que
os rege; depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis. Não
estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a
existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a
reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu pela existência
dos Espíritos, quando essa existência ressaltou evidente da observação dos
fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os
fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio
subsequentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato
dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da
imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus
estudos se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que
esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às
coisas metafísicas."[17]
"(…) o Espiritismo, restituindo ao Espírito
o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade da inteligência
sobre a matéria, apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os
homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais o orgulho
fundou castas e os estúpidos preconceitos de cor. O Espiritismo, alargando o
círculo da família pela pluralidade das existências, estabelece entre os homens
uma fraternidade mais racional do que aquela que não tem por base senão os
frágeis laços da matéria, porque esses laços são perecíveis, ao passo que os do
Espírito são eternos. Esses laços, uma vez bem compreendidos, influirão pela
força das coisas, sobre as relações sociais, e mais tarde sobre a Legislação
social, que tomará por base as leis imutáveis do amor e da caridade; então
ver-se-á desaparecerem essa anomalias que chocam os homens de bom senso, como
as leis da Idade Média chocam os homens de hoje…"[18]
Diz-se codificador pois o seu trabalho foi o
de reunir, compilar e sistematizar textos recebidos por diversos médiuns
naquela época
Referências
1. PENSE - Allan Kardec. Viasantos.com.
2. Esboço biográfico e curiosidades.
Espirito.org.br.
3. Mensagem através da psicografia da médium
Ermance Dufaux (uma das médiuns de Kardec) em 1857. Esta mensagem foi encontrada
na livraria Leymarie, na França, por Canuto de Abreu. Esta informação consta no
livro A missão de Allan Kardec, de Carlos Imbassahy
4. Holocausto Pela Verdade, palestra de
Divaldo Pereira Franco (em DVD)
5. Os Luminares Tchecos", obra da médium
Wera Krijanowskaia, pelo espírito de J.W. Rochester
6. João Huss na História do Espiritismo,
artigo de Wallace Leal V. Rodrigues, publicado no Anuário Espírita de 1973
(órgão do Instituto de Difusão Espírita (IDE), Ano X, N º 10, Araras, SP, pág.
75 –85)
7. Allan Kardec. Revista Espírita - Abril de
1864 e em O Evangelho segundo o Espiritismo, introdução, item II
8. Textos - Allan Kardec. Espirito.org.br.
9. a b Encyclopædia Britannica, 1997. Vol.8.
p.390
10. Algumas fontes não confirmadas dizem que Allan
Kardec teria sido médico. Pesquisas posteriores, no entanto demonstraram que
ele foi professor de Anatomia. Retirado do rodapé desta página da FEB.
11.
a b SOARES, p. 13
12.
Dados pessoais. Feal.com.br.
13. KARDEC, Allan. Obras Póstumas (14ª edição). Rio de Janeiro: FEB,
1975. p. 30
14.
Carta de Delanne publicada na Revista Espírita em 1907. Disponível em Autores
Espíritas Clássicos. Gabriel Delanne - sua vida, seu apostolado e sua obra
(.doc). Paul Bodier e Henri Regnault. Página visitada em 03/04/2010. Ver em
HTML.
15.
SOARES, p. 14
16.
O Céu e o Inferno, Primeira Parte, cap. 2
17.
A Gênese, Capítulo I, item 14
18.
Revista Espírita 1861, pág. 297-298
Bibliografia
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