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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Primeiras páginas do livro As Marcas Do Cristo – Hermínio C. Miranda



Este livro é um pequeno ensaio de interpretação das personalidades Paulo de tarso e Lutero, em termos de doutrina espírita. [...] embora, pessoalmente, esteja convencido de que  Paulo e Lutero são um só espírito, em etapas reencarnatórias distintas, e conquanto gire o livro em torno dessa premissa, há nele diversas plataformas de entendimento, estruturadas de modo tal que a aludida identidade de personagens não é propriamente vital para a boa assimilação da obra.

UNIVERSALIZAÇÃO DO CRISTIANISMO E RENASCENÇA DA RELIGIÃO.

Quando um mal existe, não se cura sem crise (...).
— Allan Kardec (Revue Spirite, junho de 1862)

”Paulo, o Apóstolo dos Gentios”

Em A Caminho da Luz (cap. XIV), Emmanuel escreveu:
[...] a comunidade cristã, de modo geral, começou a sofrer a influência do Judaísmo, e quase todos os núcleos organizados, da doutrina, pretenderam guardar feição aristocrática, em face das novas igrejas e associações que se fundavam nos mais diversos pontos do mundo.
A influência judaizante era um mal que precisava ser conjurado no nascedouro, pois “o portentoso alicerce do Cristianismo”, que era, no dizer de Emmanuel, o “trabalho de redação dos Evangelhos”, podia ser atingido se lhe faltasse “o precioso caráter universalista”.
Sem perda de tempo, Jesus convoca “ao seu sublime ministério” o luminoso e enérgico Espírito que fora assinalado para a realização superlativa de levar o Evangelho a todos os povos da terra, mas que, então, se desviara da verdadeira senda: Paulo (Saulo) de tarso!
Insondável desígnio que nem mesmo os mais atilados apóstolos do senhor foram capazes de ajuizar de imediato. as ações e as epístolas de Paulo tornam-se poderoso elemento de universalização da nova doutrina. E prossegue Emmanuel: a princípio, estabelece-se entre ele e os demais apóstolos uma penosa situação de incompreensibilidade, mas a sua influência providencial teve por fim evitar uma aristocracia injustificável dentro da comunidade cristã, nos seus tempos inesquecíveis de simplicidade e pureza.
No livro Caminho, Verdade e Vida, o mesmo Emmanuel esclarece: “[...] a consciência do apóstolo dos gentios era apaixonada pela lei, mas não pelos vícios”. Quando, pois, compreendeu a extensão do próprio erro, não vacilou um só instante e assumiu, por inteiro, a responsabilidade que lhe cabia na difusão do Cristianismo, cheia de exemplos dignificantes, testemunhos contínuos e renúncias santificantes.

”Lutero, o reformador”

Os Atos dos Apóstolos (19:15) registraram uma cena dolorosa de frustração dos filhos de Ceva, exorcistas ambulantes, que tentaram invocar, como o fazia Paulo, o nome do Senhor Jesus sobre possessos de Espíritos obsessores:
Mas o espírito maligno lhes respondeu: Conheço a Jesus e sei bem quem é Paulo; mas vós, quem sois?
A mesma pergunta podia ser feita ao sacerdócio católico da época de Lutero, com consequências semelhantes.
Tanto podia que o foi, mas por alguém com bastante autoridade moral para formulá-la; e com resultados de avultada significação e repercussão, que não cessaram até hoje.
Emmanuel, no mesmo livro inicialmente citado (cap. XX), ao tratar da Renascença Religiosa, pontifica: o plano invisível determina (....) a vinda ao mundo de numerosos missionários com o objetivo de levar a efeito a renascença da religião, de maneira a regenerar seus relaxados centros de força. Assim, no século XVI, aparecem as figuras veneráveis de Lutero, Calvino, Erasmo, Melanchthon e outros vultos notáveis da reforma, na Europa central e nos países baixos.
Hermínio C. Miranda procedeu a uma rigorosa análise crítica de tudo o que ficou dito sobre Paulo e Lutero. Quanto ao último, ele explica o que muitos ignoram e até mesmo o que entre espíritas geralmente se desconhece, no entendimento justo da obra da reforma e da corajosa posição assumida pelo filho de Eisleben [Lutero] durante toda a sua vida de reformador.
As palavras que prometêramos, no início, portanto, não são nossas, mas de Emmanuel, de cujo livro, O Consolador, daremos, também, uns flashes pertinentes à matéria analisada em As Marcas do Cristo: O Cristianismo é a síntese [...] de todos os sistemas religiosos mais antigos, expressões fragmentárias das verdades sublimes trazidas ao mundo na palavra imorredoura de Jesus. (Questão 293.)
Todas as expressões religiosas nascidas do Cristianismo se identificam pela seiva de amor do tronco que as congrega, apesar dos erros humanos de seus expositores. (Questão 294.)
A Reforma e os movimentos que se lhes seguiram vieram ao mundo com a missão especial de exumar a “letra” dos Evangelhos, enterrada até então nos arquivos da intolerância clerical, nos seminários e nos conventos, a fim de que, depois da sua tarefa, pudesse o Consolador prometido, pela voz do espiritismo cristão, ensinar aos homens o “espírito divino” de todas as lições de Jesus. (Questão 295.)
Esclarecendo o erro religioso, onde quer que se encontre, e revelando a verdadeira luz, pelos atos e pelos ensinamentos, o espiritista sincero, enriquecendo os valores da fé, representa o operário da regeneração do Templo do Senhor, onde os homens se agrupam em vários departamentos, ante altares diversos, mas onde existe um só Mestre, que é Jesus Cristo. (Questão 353.)
Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer:
“eu creio”, mas afirmar: “eu sei”, com todos os valores da razão tocados pela luz do sentimento. (Questão 354.)
Admitir as afirmativas mais estranhas, sem um exame minucioso, é caminhar para e pelo desfiladeiro do absurdo, onde os fantasmas dogmáticos conduzem as criaturas a todos os despautérios. Mas também interferir nos problemas essenciais da vida, sem que a razão esteja iluminada pelo sentimento, é buscar o mesmo declive onde os fantasmas impiedosos da negação conduzem as almas a muitos crimes. (Questão 355.)
Os novos discípulos do Evangelho devem compreender que os dogmas passaram. (...) dentro das novas expressões evolutivas, porém, os espiritistas devem evitar as expressões dogmáticas, compreendendo que a Doutrina é progressiva, esquivando-se a qualquer pretensão de infalibilidade, em face da grandeza inultrapassável do Evangelho. (Questão 360.)
Ao tempo de Paulo de tarso havia problemas com a redação dos Evangelhos, ante o mal farisaico que poderia levar à judaização do Cristianismo, desfigurando lhe o sentido e a finalidade universalizantes; à época de Lutero, de Trevas plenas, urgia exumar a “letra” dos mesmos Evangelhos, para que se não perdessem. E o ano que viu Kardec nascer registrou o surgimento da primeira Sociedade Bíblica para a divulgação dos textos das Escrituras, que passou em certo tempo a ser feita em todas as línguas, idiomas, dialetos: em número superior a mil e duzentos, em todo o orbe, doutro modo, não poderia o espiritismo ensinar aos homens o “espírito divino” de todas as lições de Jesus!... Por isso dissemos da bela contribuição do autor às letras espíritas e da publicação de As marcas do Cristo pela Casa - Mater do espiritismo no brasil.
Francisco Thiesen
presidente da federação espírita brasileira
Rio de Janeiro (RJ), 24 de julho de 1979

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